Entrámos numa nova e estimulante fase da nossa democracia: a
oligo-democracia.
O nosso presidente monarca, homem que segundo as suas
próprias palavras não comenta nada e não se imiscuí na vida dos outros, acabou
de anunciar o seu sucessor. Sangue do mesmo sangue, filho pródigo emigrado, “volta
que estás perdoado”.
Perdoado por teres fugido e pelo abandono, perdoado porque
enquanto estiveste fora nunca quiseste saber de nós, perdoado porque enquanto “dentro”
o “nós” vai continuar a ser um conceito vazio para ti.
Uma das coisas boas das oligarquias monárquicas é a
consanguinidade: como eles se reproduzem em circuito fechado, replicam as mesmas
características para todo o sempre, até que por aparecimento de infertilidade,
se quebre o ciclo reprodutivo.
Se não for a infertilidade a pôr um ponto final, todas as
taras e manias, atribuídas habitualmente à procriação dos seres no seio da
mesma família, perpetuam-se com tendência para se acentuarem.
Na nossa história tivemos casas reais jeitosas e outras
absolutamente “mongoloides”. A que agora está em despacho no palácio é das jeitosas: sem
snobismos e cheia de voluntarismo dá uma mão para ajudar a governar quando
falta gente, arregaça as mangas e faz fotocópias dos discursos dos assessores
dos ministros quando é preciso, faz
belos e gongóricos discursos para a televisão, continua a fazer belos e gongóricos discursos no estrangeiro,
nos imensos forum a que é constantemente convidada, sai à rua amiúde para
escutar o povo e dar confortos, e bate
com o tacão da bota, firme e hirto, sempre que se apercebe de injustiças
ou maldades praticadas aos seus súbditos.
Por isso tudo e por outras razões que não são de somenos,
como ser um bom chefe de família – a sua violência doméstica canaliza-a para
fora de casa - voltamos a que a consanguinidade é uma coisa boa.
Temos a garantia de que a continuidade e passe a anáfora, vai
ser o continuum , o selo imperial, a
marca de um rei protector e preocupado, cavaleiro-andante da causa pública.
Daqui a muitos anos, se isto continuar assim, os filhos dos
nossos filhos quando entrarem na sala de aula verão a fotografia de um senhor
de olhar vazio, que eles desconhecem, mas que continua a aparecer sempre e em
todos os lugares públicos.
Quando chegarem a suas casas, na hora do jantar e frente à
televisão, um senhor-clone, parecido em mais novo com o da moldura que enquadra
o cucuruto da cabeça da professora quando sentada, estará a debitar o seu
discurso com o ar aparentemente mais inocente do mundo, talvez anunciado que o
seu sucessor deverá ser uma figura de cariz galáctico, reconhecida pela
fluência de idiomas, conhecedor profundo e amigo das salas de estar dos
poderosos deste mundo.
Só com um perfil desta envergadura humanística, se levará a
Nação aos pés do Olimpo. Esta nação que já deu novos mundos ao mundo e agora dá
oligarcas dos bons.
Abençoado POVO, que produz cidadãos, que mesmo nas horas negras da PÁTRIA, consegue ter sentido de humor.
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