quarta-feira, 11 de março de 2015

ACABAMOS DE INVENTAR A OLIGO-DEMOCRACIA




Entrámos numa nova e estimulante fase da nossa democracia: a oligo-democracia.

O nosso presidente monarca, homem que segundo as suas próprias palavras não comenta nada e não se imiscuí na vida dos outros, acabou de anunciar o seu sucessor. Sangue do mesmo sangue, filho pródigo emigrado, “volta que estás perdoado”.

Perdoado por teres fugido e pelo abandono, perdoado porque enquanto estiveste fora nunca quiseste saber de nós, perdoado porque enquanto “dentro” o “nós” vai continuar a ser um conceito vazio para ti.

Uma das coisas boas das oligarquias monárquicas é a consanguinidade: como eles se reproduzem em circuito fechado, replicam as mesmas características para todo o sempre, até que por aparecimento de infertilidade, se quebre o ciclo reprodutivo.

Se não for a infertilidade a pôr um ponto final, todas as taras e manias, atribuídas habitualmente à procriação dos seres no seio da mesma família, perpetuam-se com tendência para se acentuarem.

Na nossa história tivemos casas reais jeitosas e outras absolutamente “mongoloides”. A que agora  está em despacho no palácio é das jeitosas: sem snobismos e cheia de voluntarismo dá uma mão para ajudar a governar quando falta gente, arregaça as mangas e faz fotocópias dos discursos dos assessores dos ministros quando é preciso,  faz belos e gongóricos discursos para a televisão, continua a fazer  belos e gongóricos discursos no estrangeiro, nos imensos forum a que é constantemente convidada, sai à rua amiúde para escutar o povo e dar confortos, e bate  com o tacão da bota, firme e hirto, sempre que se apercebe de injustiças ou maldades praticadas aos seus súbditos.

Por isso tudo e por outras razões que não são de somenos, como ser um bom chefe de família – a sua violência doméstica canaliza-a para fora de casa - voltamos a que a consanguinidade é uma coisa boa.

Temos a garantia de que a continuidade e passe a anáfora, vai ser o continuum , o selo imperial, a marca de um rei protector e preocupado, cavaleiro-andante da causa pública.

Daqui a muitos anos, se isto continuar assim, os filhos dos nossos filhos quando entrarem na sala de aula verão a fotografia de um senhor de olhar vazio, que eles desconhecem, mas que continua a aparecer sempre e em todos os lugares públicos.

Quando chegarem a suas casas, na hora do jantar e frente à televisão, um senhor-clone, parecido em mais novo com o da moldura que enquadra o cucuruto da cabeça da professora quando sentada, estará a debitar o seu discurso com o ar aparentemente mais inocente do mundo, talvez anunciado que o seu sucessor deverá ser uma figura de cariz galáctico, reconhecida pela fluência de idiomas, conhecedor profundo e amigo das salas de estar dos poderosos deste mundo.

Só com um perfil desta envergadura humanística, se levará a Nação aos pés do Olimpo. Esta nação que já deu novos mundos ao mundo e agora dá oligarcas dos bons.





1 comentário:

  1. Abençoado POVO, que produz cidadãos, que mesmo nas horas negras da PÁTRIA, consegue ter sentido de humor.

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