Dá-me
pena ver o Presidente da República do meu país a dizer o que diz. Bem sei que,
quando fora de portas, não devemos dizer mal da nossa casa. Mas, c’os diabos,
também não é preciso ir dizer que é uma mansão celestial. Sobretudo quando não é
verdade, tanto mais que qualquer visitante que esmiuce um pouco, vê logo que
aqui há gato (e não lebre).
Lá
pelos lados da OCDE, onde até se dominam os números macro-económicos, o nosso
chefe pavoneou-se, cavaqueando sobre êxitos que eu e alguns mais não
conseguimos ver nem à lupa.
Gabou
o senhor Presidente, entre outras, as políticas do actual executivo nas áreas
da educação, da ciência, do mercado laboral, da fiscalidade, da justiça, tudo
na paz dos anjos, em contexto de coesão social. Vê-se!
Concedo
que, na área do mercado laboral, é capaz de ter alguma razão. Tratando-se de um
“mercado”, há duas partes em confronto, com interesses antagónicos. Acredito
que uma delas esteja satisfeita, mas, no que toca à outra, tenho as minhas
dúvidas.
Referindo-se
ao ano de 2014, disse que foi o ano da viragem. Só não explicitou para onde, o
que me causa algumas preocupações adicionais. Será que a intenção é virar
“isto” ainda para pior? É que, de melhorias, eu também andei por cá e não senti
nada. E, justamente porque tenho andado por cá, ouvi uma reportagem da
Antena 1, “A uns cêntimos da dignidade”. Oiça-a, senhor presidente.
Falou-se
ali da pobreza. Mas nem precisa de “chafurdar” na escala social mais baixa.
Pense também em muitos milhares que, há pouco tempo, antes do salvamento dos
Bancos, imaginavam pertencer à classe média. Agora, já têm a certeza de que o
seu lugar não é ali. Alguns vivem das pensões de reforma. Nenhuma delas tem o
tamanho da sua.
PÚBLICO (19/03/2015), truncado das partes sublinhadas.
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