VAMOS TER UMA ESCOLA DE MÚSICA LINDA!
Com os cofres do Estado a regurgitar dinheiro - moedas de dois
euros que pingam das gavetas e podem até causar infiltrações, ou buracos no
soalho - estamos convencidos que por um lapsus memoriam, ou por não ter jeito
para números, ou pela maldade habitual dos jornalistas que só se alimentam de
sensacionalismos, a verba que o excelso académico senhor ministro da educação e
cultura anunciou para a requalificação imediata da escola de música de Lisboa
não foi de quarenta e picos mil euros, mas quatro milhões e tal picos.
Não foi ele que assobiou esse número para o ar, foi
provavelmente, eventualmente, abusadamente, o secretário do secretário do
adjunto do mesmo. Terá mesmo sido o porteiro que ouviu e quis dar-se ares de
mandante político? A fazer-se de importante, estão a ver?
Já foi nomeada uma comissão, inspeção, grupo de trabalho
independente para responsabilizar e onerar com castigo o administrativo
responsável. Desemprego compulsivo com pulseira electrónica e sem direito a
reforma.
O que o senhor ministro excelso e académico quis dizer foi que,
com os cofres assim que não se contêm mais, vão dispensar o que faça falta para
que os miúdos deste país também possam fazer música: afinal tarefa tão ou mais
importante do que ser político.
Conseguiu-se mesmo apurar, por fontes que pedem o anonimato, que
o dito do excelso já demitiu hoje mesmo o porteiro, responsabilizando-o
politicamente pelo descrédito gratuito e criminoso que intentou contra o bom
nome do governo.
Mais, o académico com o blazer azul cheio de pó, foi visto ao
fim do dia a transportar sacos de cimento para o porta bagagens do mercedes
catita com que lhe facilitam as deslocações (com estas greves constantes do
metro como é que o homem poderia sair à rua e tomar o pulso do bom andamento
das escolas?), contributo pessoal e do seu bolso para a reconstrução da escola.
Ainda se queixam, por tudo e por nada, só pelo prazer de serem
do contra! Ingratos! Os filantropos não vos merecem, gente reles.
Publicado hoje no Público, dia 21, Dia da Poesia. Na senda do costume, este texto crítico, amargo e doce, vai ao fundo da questão. Esta gente que nos governa é duma insensibilidade tal que nos arrepia e assusta. A maioria dos que nos governam não lêem este texto e se, acaso o lessem não o perceberiam como não percebem a desgraça que fazem a este país. O Luís, homem de "sete costados e duma só fé", irá continuar a "gritar", e estes irresponsáveis, surdos e imbecis, não o ouvirão, como sucede com outros cidadãos que ainda esperam o milagre, não das rosas, mas da justiça e da inteligência. Parabéns por mais este óptimo texto.
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