Trago sempre
sonhos comigo a tiracolo
e, por isso,
sofro em demasia.
A carga de conflitos,
que me inunda a mente,
é um labiríntico pandemónio,
como caótico trânsito citadino
em horas de ponta.
Perante tais factos,
que parecem não ter cor,
sinto em mim uma mordaça,
seja dia ou seja noite.
Mas sei discernir ainda
quem é trigo
e quem é joio,
e quem (plural)
de carneiro, com pele parece,
sempre me quis
e quer calar.
Tudo é tão abstracto,
Mas realmente é concreto.
Não me calarei,
apesar dos meus interregnos,
como vulcão inactivo,
pois, por vezes, a erupção
aumenta abruptamente,
de difícil previsão,
manchando a claridade,
como possante alazão
tomando o freio nos dentes,
em correria incontida,
em díspar direcção.
Não me calarei,
mas, por vezes, o contrário
parece-me alguém dizê-lo.
Eis a antítese desgraçada
da minha luta interior,
que me deixa sequelas
difíceis de esquecer.
E, assim, vou penando,
enredado em sufocada aflição,
engrossando o batalhão sem bandeira,
que não vence, pelo menos,
a minha incontida desilusão.
Nota: páginas 114 e 115 de O LIVRO EM
BRANCO, compilado em 1989.
José Amaral
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