Abarrotada de enchimento, inflada, com um rosto escavacado de
rugas que o desmente, deu-lhe à minhoca para falar, quando não devia, porque as
minhocas que se saiba não falam.
Esta, talvez porque geneticamente modificada gosta de falar. E nesse
fenómeno de uma vocalização não natural à sua espécie, fá-lo nas mais inoportunas
ocasiões.
Ela fala, mas saberá que fala? Questão a considerar.
As outras minhocas, minhocas como ela, não dão sequer pela emissão
da palavra, porque não sabem o que isso é. E assim consideram-na, algumas mesmo
com estima.
Há mesmo minhocas - o que está documentado cientificamente – que
emitem palavras, mas dizem coisas sem nexo e atabalhoadas. Curiosidades da ciência.
Neste reino animal, cheio de pluralidades de animais de todas as
espécies e feitios co-habitando o mesmo espaço, fica estranho que as minhocas
falem.
- É das alterações climáticas. Dizem os ecologistas.
- Não senhor! Neste mundo moderno das liberalidades animalescas,
é de lei que as minhocas tenham voz própria. Dizem as espécies anteriormente
mudas - e agora modificadas pela poluição que deu a algumas a capacidade de
emitir opinião sonora.
Esta minhoca é uma infra-espécie, sendo altamente provável que
as altas concentrações de gasóleo dos barcos dos marejadores do pântano onde medrou, tenha contribuído para a translocação
celular dos cromossomas desta minhoca em gente.
O grande aborrecimento é que esta triste desta minhoca fala, mas
não sabe do que está a falar: debita palavras involuntariamente, e algumas, por
ajeitamentos que só às palavras compete, até criam significados que ultrapassam
os débeis conhecimentos linguísticos impensáveis numa pobre de uma minhoca.
Desconhece-se se em veterinária se estuda o pensamento das minhocas,
desconhece-se ainda mais se existe uma cadeira de psiquiatria das minhocas.
Estes seres – seres de deus - híbridos necessitam de ajuda, e é disto que este
texto trata: sensibilizar “quem de direito” a olhar para eles. Restituírem uma
vida digna a seres que fazem falta ao equilíbrio do eco-sistema.
A realização do conseguimento de todos é fundamental, é uma pena
perderem-se em mal entendidos: uma lagosta veria o seu potencial “ficar pelo
caminho” vestida de fraque a receber os cumprimentos diplomáticos, assim como
um homem não ficaria bem a chapinhar num aquário em imitação de peixe.
A cada um o seu desígnio.
Este texto é muito “esotérico”, sabemo-lo, mas não há outra
forma de falar das minhocas, sem que elas não venham logo a seguir sugar-nos.
Desta forma pode ser que passe, porque as aventesmas de que agora falamos,
apesar de espertas não são inteligentes e sempre que ouvem falar delas roçam os
flancos, deliciadas e tontas, numa esquina qualquer, nos prazeres de imaginarem
que conseguiram atenções.
Vivem de que se olhe para elas. Se não lhes passarmos “cartolina”,
perdem a voz apesar de continuarem a minhocar no seu ambiente natural: o pântano
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