Eu não sei o que é a maçonaria, nem ao que se propõe. Sei do que
ouço dizer e de ler, e passadas décadas de muito ouvir e muito ler, não cheguei
a conclusões concludentes, nem sobre este tema em particular nem sobre outros
igualmente estimulantes.
No meu poupado saber, tenho arquivada a maçonaria na estante da
minha biblioteca cerebral, numa gaveta com a etiqueta de “agremiações secretas”,
clube de acesso reservado a portadores de cartão.
Pouco mais sei que se trata de indivíduos que se encontram
regularmente em “templos”, sob a discrição de nomes simbólicos e que desenvolvem
trabalhos de grande profundidade e interesse comum.
Interesse comum para os seus associados ou para o geral,
diferença que pode ser da maior relevância, é algo que não posso concluir,
desconhecimento meu que inibe uma opinião desapaixonada, se bem não se possa
negar que trabalhar para o bem comum universal é mais humano, mas talvez menos
proveitoso, do que trabalhar para o interesse próprio.
Tudo quanto é clube privado, de acesso com vistos gold, cheira a mofo e humidades várias,
razão pela qual sou céptico.
Muito se publica sobre os rituais, os cânones, e do que vi em
litografias parece bonito: quem não gosta de um belo atavio, colorido,
carregado de colares de lantejoulas faiscantes a realçarem os perfis! O Homem é
um amante de teatralidades.
Toda esta conversa, fervilha curiosidades nos desataviados
mortais que o momento mais exclusivo a que têm acesso por cartão, é o seu
encontro diário, nos inícios e fins de dia, com os seus pares na carruagem
apertada da linha de Sintra, ou no metro do Porto, ou noutra localidade
qualquer com transportes públicos.
Sobre a essência e o miolo doutrinário do Grande Oriente - a ideia romântica de um Grande Arquitecto do
Universo, provedor da protecção e do cuidado aos desvalidos, um ser-conceito de
grande abstração, colhe aderentes sem conta e a história tem bons exemplos
disso - é uma novela que atrai a curiosidade dos crédulos, e sendo um membro
honorário dessa categoria sou um aderente incondicional.
Nomeiem um mortal que não gostaria de se ver adoptado, dirigido,
governando, por um grupo de sábios, que o leve ao colo pela vida e depois dela,
sem ter que sofrer nos costados as tropelias e as preocupações de ser dono da
suas decisões, sem necessidade de fazer opções e escolhas erradas,
libertando-se do sofrimento e das imperfeições que o enformam desde a nascença?
Dizem que a maçonaria defende, e exercita estes ideais: uma
sociedade nivelada pelos ensinamentos da igualdade, da liberdade, da fraternidade,
governada por um comité central de Mestres sapientíssimos. A ser verdade a
informação que passa, então é uma organização de grandes méritos, de elevação
de valores, digna de ver os seus membros em posições de relevo: em todas as áreas,
as politicas, as económicas e outras menores.
Assim sendo, entreguemos em boas mãos de luva branca as rédeas
da liderança e do poder, a estes operários de avental imaculado, e que não se
abatam colunas, antes pelo contrário, que floresçam os maçons na edificação dos
capitéis do Mundo Novo.
Tudo o que se pode dizer a seguir, são maledicências e
remordimentos invejosos, tão típicos da mesquinhez endémica do povo, que
estando num ab initio eterno, em
marinar vegetativo, por vezes abusa e alucina com as doses de opiáceos, e
gomita a sua bílis em cima de quem lhe faz bem.
Demos as boas-vindas aos pedreiros-livres na sua marcha
inexorável pelo poder, desbravadores do caminho, que a todos elevará até à
Sociedade perfeita do futuro, onde viveremos na ausência do Mal, na protecção
de quem pensa e age por nós, bem-aventurados a gozar um dolce far niente enquanto os sábios, enclausurados nos seus templos
atafulhados de bricabraque e ícones, pensam o peso dos desígnios do mundo.
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