Dos calores da juventude...
...”Naná crescia, fazendo-se uma boa moça. Aos quinze anos
estava completamente desenvolvida, uma pele aveludada como a do pêssego, uma
boca de rosa e nos olhos um fogo tal, que os homens ao vê-los sentiam desejos
de acenderem neles os seus cachimbos.
Agora já Naná não necessitava de meter bolas de papel no
espartilho, pois os peitos tinham adquirido um regular desenvolvimento, cobertos
por uma pele parecida com cetim branco finíssimo. E o que a tornava mais
apetecível era o feio costume de mostrar a pontinha da língua por enre os seus
brancos dentes.
Os domingos eram, naquela época, os dias de contacto de Naná
com a multidão, com todos os homens que passavam e lhe deitavam olhares. Esperava
toda a semana que chegasse o domingo, possuída de uma necessidade de ar livre,
de passeios ao sol com as colegas entre a barafunda de um arrabalde em traje de
festa.
A rua pertencia-lhes, nela tinham crescido, levantando as
saias em frente das lojas,
arregaçando-se até aos joelhos para atarem as ligas. Naná ia no meio com o seu
vestido cor de rosa, dando o braço a Paulina. E, como as duas eram mais
mulheres e mais descaradas, dirigiam o bando e envaideciam-se com os olhares e
dichotes que lhes deitavam. Próximo do pôr do sol, davam a última volta do
passeio e regressavam, no meio da multidão fatigada. Depois, subiam às
respectivas habitações, inventando uma historieta.
Agora Naná era oficial e ganhava quarenta soldos e os pais
não queriam mudá-la de atelier. Todas as manhãs a jovem ia só e a patroa tinha
o encargo de tomar nota da hora a que chegava para informar a mãe; às vezes era
pontual, mas quase sempre chegava atrasada, o que levava a mestra a exigir-lhe
que lhe contasse se tinha estado com algum homem.
Realmente, no atelier Naná completava uma educação admirável,
aperfeiçoando-se no contacto com aquele
grupo de descaradas; ali estavam misturadas umas com as outras, a eterna
história do cesto de maçãs, quando entre elas havia algumas podres. Ao ouvido
umas das outras, eram muitas as obscenidades. E como se isto não bastasse às
raparigas que, como Naná, ainda não tinham provado do fruto proibido, reinava
no atelier uma atmosfera que a levava a querer estar junto daquelas que já
tinham visto o bicho”...
Nota – texto compilado do livro anexo.
Amândio G. Martins
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