Quando deu entrada
nas urgências do hospital distrital, já os familiares – devido a
padecimento prolongado e irreversível – contavam que não lhe
sobravam muitos dias de vida.
Mas, como a
esperança é a última a morrer, ninguém se convenceu de que seriam
tão poucos os dias em que o senhor Edmundo iria continuar entre os
seus.
Passados cinco dias,
mal o Sol despontava por detrás do pequeno monte, chegou à aldeia a
notícia que ninguém queria que o fosse: o tio Edmundo tinha
falecido por volta das quatro da manhã (sabe-se lá porquê,
constava-se que naquele hospital muitas pessoas morriam por volta
daquele hora).
Começaram as
diligências com vista ao reconhecimento do corpo, o velório e o
funeral.
Foi no velório que
tudo se passou de maneira pouco normal para os costumes, não só da
aldeia, como também de todos os falecidos: o senhor Edmundo
levantou-se do caixão, ficou algum tempo sentado, olhou as pessoas
à sua volta, e achou tudo aquilo muito estranho – já tinha estado
algumas vezes naquela sala, a participar em velórios de familiares
ou amigos, mas a sua estranheza subiu de tom quando se apercebeu do
seu papel no meio de toda aquela realidade.
Chamou o filho mais
velho, que estava próximo, apenas para pedir que confirmasse as suas
dúvidas, se aquilo que estava a acontecer naquela sala era mesmo
verdadeiro, ou se seria ele que estava envolvido num dos piores
sonhos ou mesmo num pesadelo.
O filho esclareceu-o
sobre as suas dúvidas, e que já se tinham chamado as entidades
oficiais, nomeadamente o médico e os bombeiros – talvez quisesse
dizer INEM.
Quando estes
chegaram ao local, e depois de se inteirarem da situação, um
bombeiro apenas declarou que ao longo dos anos e da sua experiência,
nunca tinha visto nada assim; o médico, que chegou pouco tempo
depois, disse às pessoas que – embora muito raramente - estas
coisas às vezes acontecem: “o cadáver vai ficando rijo nas
horas que se seguem ao falecimento, de que podem resultar estes
movimentos mecânicos”.
O óbito foi
confirmado pela segunda vez, o falecido lá ficou – provavelmente
muito desanimado – dentro do caixão, em forma correcta, talvez
frustrado por não participar no seu próprio funeral.
Mas era assim que
tinha de ir – e foi.
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