Quem é burro puxe uma carroça...
No meu tempo de miúdo, em Lisboa, abundavam uns tascos de aspecto pouco convidativo,
chamados “carvoeiros”, que eram geridos, de uma forma geral, por imigrados da
Galiza; vendiam carvão, vinho a copo, sopa e petróleo que servia para iluminar
e cozinhar.
Esses comerciantes eram gente de vida simples e, segundo se
ouvia, faziam fortuna com aquele negócio; a sopa gordurosa e umas sandes
manhosas eram a especialidade culinária dessas casas a qualquer hora, onde não
faltava uma clientela fixa, de fracos recursos mas abundante e também operários
que andassem em obras por perto iam lá
pedir para aquecer a marmita, consumindo pão e vinho.
Lembrava-me sempre desses galegos quando, uns anos mais tarde,
já noutra vida, ia parar a certos lugarejos onde não havia quase nada mas havia
sempre um “tascoso”, às vezes até com muito boa comida; como no “carvoeiro”,
haveria sempre nem que fosse uma sopa e umas saudwiches para enganar a “negra.
Certa vez, na terra do nosso parceiro Valdigem, chegamos
tarde - eu e mais um colega de Lisboa
que andava a estagiar comigo - a um “comedouro” chamado Coutinho, que ficava
num recanto junto à linha férrea; já estavam em arrumações mas o homem não se
mostrou enfadado quando perguntamos se ainda havia alguma coisa para comer.
“Bom, a esta hora só já temos dobrada com feijão branco, feijão com tripa e
tripas à moda do Porto”.
Dava para perceber que se tratava da mesma panelada mas o meu colega pediu “à moda do Porto” e eu pedi
“dobrada”, para ver o que acontecia; e, na verdade, numa travessa vinham uns
bocadinhos de presunto crú e na outra um raminho de salsa mas, no fim,
estávamos ambos satisfeitos e ainda houve brincadeira com a criatividade do
homem...
Amândio G. Martins
O velho (e bravo) Coutinho já bateu a bota. Era aqui a 100 m. da minha casa. Vários filhos estiveram (dois ainda estão) ligados à restauração de qualidade a preços módicos. Um deles, o Alfredo, bom rapaz, da minha infância, tem um restaurante na N.14, que cá na terra é conhecido por um apelido derivado da fogosidade do velhote, que me abstenho de enunciar. Este povo é muito venenoso...,
ResponderEliminarSe um dia me passar esta preguiça de ir para a estrada ainda darei um giro por esses lados para matar saudades...
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