Que me desculpem os doentes - e respectivos familiares ou próximos -, cuja dor não desvalorizo, que se viram atingidos por algum adiamento de intervenção cirúrgica em consequência da greve dos enfermeiros.
Julgo não ter o direito de pensar que, quando alguma classe profissional se lança numa greve - essa última (única?) forma de defesa dos seus direitos -, o esteja a fazer de ânimo leve. No entanto, não falta quem os culpe dos efeitos indesejáveis que a sua acção possa ter originado, ilibando, no mesmo passo e automaticamente, os que os forçaram a ir para a frente com a temerária iniciativa que, como a Procuradoria-Geral da República já esclareceu, não se encontra ferida de qualquer ilicitude.
E que querem, afinal, os enfermeiros? O que qualquer profissional digno não pode deixar de reivindicar: uma carreira, a reposição das progressões suspensas há 13 anos, e a categoria de enfermeiro especialista. A quem leva para casa, mensalmente, menos de mil euros líquidos, e que trabalha muitas horas extraordinárias sem remuneração, não se pode apontar a gula do enriquecimento rápido.
Não faltará também quem se comova com a afirmação do presidente do Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos de que havia piquetes de greve à entrada dos blocos operatórios para “atrasar, obstaculizar ou adiar” as cirurgias que não cumprem os serviços mínimos. A Ordem e os sindicatos dos Enfermeiros já vieram denunciar a falsidade dessas acusações e, que eu tenha conhecimento, não foram desmentidos.
Lembremo-nos de que, há poucos dias, os portugueses em geral sentiram grande orgulho numa compatriota sua, por esta, depois de “sacudida” do País por míngua de uma ocupação digna, ter sido agraciada com o prémio de melhor enfermeira do Leste de Inglaterra. Pena foi que essa enfermeira tivesse emigrado, cedendo aos insidiosos e vergonhosos “convites” feitos pelos governantes da altura, aqueles senhores de curtas vistas centradas apenas nos défices orçamentais. Se não o fizesse, talvez não tivesse visto o seu valor reconhecido, e estaria cá, provavelmente solidária com a greve. Curiosamente, com outra gente no Governo, mas, se calhar, por causa do mesmo défice. E é por tudo isto e por muito mais que eu estou com os enfermeiros.
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