Estas lutas que
todos os dias aparecem na comunicação social têm por base o
trabalho. É a reclamação para que seja contado o tempo que
realmente trabalharam que até terá implicações na altura
de se passar à reforma e que está provado que estiveram presente
nos seus postos de trabalho, mas quem “manda” vai dizendo
“nim”.
São
também as reclamações sobre a não
aplicação das tabelas salariais oficiais e assim há
trabalhadores que não são aumentados há dez anos.
Há quem esteja na rua a reclamar pela falta de pessoal em muitos
Serviços do Estado – e muitos não recebem as horas extras
que estão a ser obrigados a fazer. Há também aqueles que
estão fartos – dizem que há casos de vinte anos – de
trabalharem ao dia. Ora são chamados uns ou chamados outros e lá
vão vivendo com uns biscates que vão aparecendo.
Portugal
está praticamente todo na rua reivindicando horários,
salários, contra a precariedade. E os responsáveis mudos e quedos
como se o Sol tudo resolvesse.
Houve tempos em que
os chamados patrões lutavam para manterem as suas equipas
estáveis oferecendo extras que cativaram famílias a assegurarem o
trabalho nas empresas. Havia colónia de férias, subsídios
para seguirem os estudos e ajudas para os filhos estudarem. Algumas empresas
até criaram bairros para assegurarem habitação aos seus
empregados e famílias. Depois encurtaram horários, instalou-se o
pagamento das horas extras, oficializou-se os períodos de férias,
criou-se subsídios para ajudar os trabalhadores que tinham trabalho por
turnos, apareceu o subsidio de Natal e em algumas empresas o subsidio de
férias e até ajuda anual para os gastos com transportes. Algumas
empresas tinham refeitório, criaram postos médicos para os seus
empregados e até subsídios para os medicamentos. Estas chamadas “regalias”
eram o orgulho de quem era admitido e lá trabalhava esperando encontrar
lugar para os seus familiares.
Claro que houve
alguma evolução a nível geral e muitas destas
práticas foram sendo asseguradas pela legislação do
trabalho estendendo e uniformizando as regalias de todos os trabalhadores.
Mas entretanto a
desregulação foi-se instalando e numa perspectiva de apenas mais
lucro foram sendo cortadas muito das regras que suportavam a
prestação de trabalho. E se algumas atitudes foram sendo aceites
pelos trabalhadores porque seriam transitórias e seriam apenas resultado
de uma crise internacional (?), agora temos o País na rua reclamando
pela falta de respeito que governo e empresários têm pelo trabalho
e por quem o assegura.
Sem trabalho
não há produção e sem braços a produzir
não avançaremos. Mas os trabalhadores além de
salários justos precisam de horários humanizados e outros
benefícios para constituir família e até terem tempo para
olharem o Sol.
Maria Clotilde Moreira
Jornal Costa do Sol - 12.12.2018
Este texto da Clotilde mostra à saciedade a transformação do capitalismo liberal num outro capitalismo, financeiro e predador, também chamado de neoliberalismo. Flexibilidade e desregulação foram as palvras-passe para a e(in)volução... Agora... a caixa de Pandora está aberta e todos os outros diabos, inclusivé os de sinal contrário, que lá se acoitaram, vão saindo aos molhos...
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