quinta-feira, 13 de dezembro de 2018


Síndrome da CÚNFIA...


"Num aspecto da maior importância, grande parte dos partidos políticos têm sido desrespeitosos para com os cidadãos. Refiro-me ao hábito de tratar os eleitores portugueses por “tu”. Dirigem-se-nos imperativamente na 2ª pessoa do singular, com uma familiaridade ordinária.

Foi “Vota” neste, “Vota naquele, “Vota” nisto e naquilo. Enquanto nos debates os dirigentes partidários, apesar de se conhecerem, trataram-se com o maior respeito – “senhor doutor” para aqui, “senhor professor” para lá – nos cartazes de propaganda tutearam-nos a todos!

A cúnfia, quando ataca, notam-se anomalias galopantes nas diversas formas de tratamento que a língua e a cultura portuguesa há muitos séculos consagraram. Quando um indivíduo é portador da cúnfia trata  por “Tu”toda a gente, independentemente do grau de intimidade e de conhecimeno. Esteja atento; um pouco por todo o lado há um ”Vota”, “Compra”, “Concorre”, “Lê”, Vai” ou “Colecciona”.

A praga da cúnfia alastra insidiosamente, essa é que é essa. O cavalheiro, a menina, o menino, o senhor, a senhora, o meu amigo, a minha amiga, toda a riqueza da 3ª pessoa está a dar lugar ao “tu-que-fumas”.

Nós, os portugueses, somos um povo respeitoso, polido e formal, mesmo quando desejamos ofender alguém. Ou não tem mais graça dizer “V.Exª não me levará a mal se eu o mandar respeitosamente à merda do que simplesmente “vai à merda”?...

Nota - texto transcrito do livro anexo.


Amândio G. Martins

3 comentários:

  1. Questão que nos separa (mas não afasta). Tudo o que sugere cerimónia, formalidade, elitismo, não faz parte de mim. O "tu", quebra barreiras e combate hipocrisias. Acho que o "vai à merda" é mais terra-a-terra, mais autêntico do que o "V. Exa".

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  2. Cá para mim não entendo que qualquer um tenha mais autenticidade que outro. Têm é lugares diferentes, consoante as circunstâncias. E daí que o que pode ser formal não seja necessariamente elitista. E o "tu" mal usado pode criar mais barreiras que o você e vice-versa. Para mim, a escolha do uso de qualquer um deles, é mesmo uma questão de educação e adequação e não de idiossincrasia.

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  3. A propósito desta brincadeira do MEC veio-me à memória um episódio de trânsito ocorrido há muitos anos, que me obrigou a uma pirueta arriscada; como ninguém se feriu nem os carros foram beliscados, eu fiquei a olhar para o sujeito que cometeu a "imprudência", que não conhecia de lado nenhum, abanando a cabeça; mas ele não gostou nada e, desabridamente, teve esta amabilidade:"Que é que tu queres, pá, não me digas que nunca erras? A resposta que me saíu automática foi: "V. Exª é uma besta"! A mulher que o acompanhava deu uma risada e ficaram os dois a barafustar, enquanto eu fui à minha vida...

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