segunda-feira, 23 de setembro de 2013

“Estou vivo e escrevo sol”

Morreu António Ramos Rosa (1924-2013). O poeta ainda escreveu esta manhã: "Estou vivo e escrevo sol", poema de 1966.


                                                                 Eu escrevo versos ao meio-dia

e a morte ao sol é uma cabeleira

que passa em frios frescos sobre a minha cara de vivo

Estou vivo e escrevo sol


Se as minhas lágrimas e os meus dentes cantam

no vazio fresco

é porque aboli todas as mentiras

e não sou mais que este momento puro

a coincidência perfeita

no acto de escrever sol


A vertigem única da verdade em riste

a nulidade de todas as próximas paragens

navego para o cimo

tombo na claridade simples

e os objectos atiram as suas faces

e na minha língua o sol trepida


melhor que beber vinho é mais claro

ser no olhar o próprio olhar

a maravilha é este espaço aberto

a rua

um grito

a grande toalha do silêncio verde

1 comentário:

  1. Quando morre um poeta é como se uma flor secasse num jardim e a vida ficasse mais pobre e menos sentida. Honremos a sua memória lendo as suas palavras, com a intensidade suficiente, para que as interiorizemos.

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