quinta-feira, 19 de setembro de 2013

O cão e o comboio turístico


O comboiozinho turístico da multissecular cidade de Lamego percorre várias artérias do coração do seu burgo e sobe e desce, também, o santuário da Nossa Senhora dos Remédios, um verdadeiro miradouro ambulante, deslumbrando os ocasionais viajantes. Qual não foi o nosso espanto ao vermos um cão a acompanhar o comboiozinho no seu percurso pela cidade, seguindo-o em completo sincronismo. Mas o mais espantoso foi verificarmos que, tanto na subida com na descida do santuário, o dedicado cão atalhava através do arvoredo, para se juntar, na curva seguinte, ao comboiozinho. E sabermos que cada viagem dura cerca de quarenta minutos e que são feitas várias viagens por dia, veja-se o sacrifício que este cão faz. E para completarmos esta verídica estória por nós presenciada, em Setembro de 2000, o leal e dedicado cão tem por dono o condutor do respectivo comboiozinho turístico.

Neste mundo cada vez mais egoísta, ainda se nos deparam factos exemplares que nos tocam indelevelmente, mas este, praticado por um ser irracional, tão limitado no seu raciocínio, é uma lição profunda, dada gratuitamente ao ser mais (im)perfeito que existe na face da Terra – o Homem.
 
Nota: este meu texto foi publicado em diversos órgãos da nossa Comunicação Social em 2000, 2001 e 2002, e, com ele, ganhei o prémio da semana do já desaparecido gratuito Meia Hora.
 
José Amaral

 

 

 

 

2 comentários:

  1. Entre a afeição do cão pelo dono e a insensatez deste, ao proporcionar ao animal tal sacrifício, não sei qual facto merece mais destaque. Eu doí-me que o animal fosse assim tão incompreendido e, na minha opinião, o dono devia ser chamado à razão porque não se sujeita assim um animal a um esforço tão prolongado como espectáculo.

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  2. É mesmo caso para dizer que vida de cão é bem difícil pois eu nunca seria capaz de ter um animal a seguir-me durante todo o dia de forma estafante e servil. O cão deve ter também vida própria, ou não?

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