domingo, 15 de setembro de 2013

Não temos mapa nem bússola

Acabo de ler o texto da escritora Ana Luísa Amaral (PÚBLICO, 15/9, pág. 55).
"As palavras são propósitos, as palavras são mapas." È esta a frase da poeta norte-americana Adrienne Rich que introduz o belo texto em prosa de Ana.
A escritora portuguesa procura a palavra, "uma palavra" que seja, que fale dos portugueses, que resuma este povo "aviltado".
"Uma palavra que conseguisse expressar a brecha, o abismo, entre a promessa e o seu cumprimento, (...) uma palavra que falasse do engano na desfaçatez (...) que denunciasse esta desrazão (...) de como a palavra deixou de fazer sentido e de significar compromisso".
"Queria uma palavra que descrevesse este pântano de corrupção, paranóia, inverdade, que acusasse esta guerra sem armas de fogo", etc., etc..
"A palavra que eu queria (...) talvez fosse a mais simples, como o mundo e a vida poderiam ser. "
Talvez essa palavra nos servisse de mapa ou de bússola "para um mundo de todos".
Mas a escritora não tem essa palavra. Muito menos eu!
Estamos mesmo em crise, porque já nem poetas (e escritores) encontram as palavras certas... para dizer a realidade.
Talvez ainda possam dizer o sonho?
(Os portugueses ainda sonham?)
 Precisamos de mapa e de bussola, porque nos sentimos perdidos.
 

3 comentários:

  1. Ainda sonhamos,sim!
    E é o sonho que nos alimenta a esperança e o querer acreditar que chegaremos a bom porto apesar da tormenta e dos que nos atormentam.

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  2. O problema não é só a palavra é o conteúdo e o dar expressão ao que ela representa. É o sentir, é o interiorizar. As palavras voam se não estiverem ligadas à acção. A palavra, apenas e só, não chega, é mesmo muito insuficiente. Sobre a palavra tenho um poema, feito à anos, que refere a procura da palavra.

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  3. O texto da poetisa Ana Luísa Amaral é uns dos mais sentidos texto que tenho lido nos jornais sob a nossa condição de portugueses cercados pela economia especulativa que nos empobrece. Um belíssimo texto.

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