O senhor Passos Coelho não prima
por cuidados de linguagem. Possivelmente, será essa faceta uma das suas maiores
virtudes, pensarão os seus seguidores. O homem, afinal, está a pôr o país na
ordem. A compor o que os outros (leia-se: esse tal de Sócrates e que agora tem
o desplante de andar a falar todos os domingos na RTP1 que é pública e que por
causa disso muita gente assinou uma petição para impedir essa imposturice)
descompuseram.
Há poucos dias, virou-se,
ferinamente, para um grupo de populares que o apupavam (meu deus, o homem anda
a compor o país e é assim que lhe agradecem, esses comunas!...)
questionando-os, qual adminículo, se a Constituição já tinha feito alguma coisa
pelos desempregados. Hoje, numa espécie de abertura do ano
letivo, numa escola em Oliveira do Bairro, afirmou que é bom uma escola possuir
boas condições de trabalho, mas "sem luxo" (esse desgraçado Sócrates
e o Parque Escolar!... O dinheiro que aí se esbanjou!...). Continuou, depois, a
sua prelucidação, desta vez para falar sobre as baixas qualificações de muitos
desempregados, um atraso secular (lembram-se das Novas Oportunidades?) que faz
com que uma parte significativa dos desempregados "não tenha sequer
concluído o 9º ano e tenha mais dificuldades em se adaptar às novas circunstâncias".
Rematou, lapidarmente, o senhor Passos Coelho: "isso paga-se e não podemos
deixar de investir para recuperar desse atraso, mas temos de fazer as nossas
contas".
Não sei o que há para dizer para
com este tipo de registo discursivo de um primeiro-ministro. Só me vem à cabeça
que se Salazar vivesse em democracia, neste tempo, seria muito parecido com o
senhor Passos Coelho; ou então, se este tivesse as mesmas responsabilidades no
tempo do ditador, as diferenças seriam, inexoravelmente, delidas.
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