Passei duas noites de Consoada fora do chão continental europeu que me viu nascer.
Tiveram lugar em terras africanas da Guiné, aquando da minha
forçada estada em missão de soberania nacional.
A primeira delas foi passada em Teixeira Pinto , no
Natal de 1966.
Eu era talvez o mais novo periquito (o mais recente militar
nesse sítio) de todo o Batalhão de Infantaria 1877, ao qual pertencia através
da Companhia de Caçadores 1500, desde os primeiros dias de Setembro de 1966, em
rendição individual.
Nessa noite, a guerra parou. Os postos de sentinela eram em
duplicado: dois soldados postavam-se em cada um deles.
Oficiais, sargentos e praças irmanavam-se o mais possível à
mesma comunal mesa de consoada. E muitos de nós, não contendo as lágrimas,
chorávamos a desdita de estar longe dos nossos entes queridos que mais
amávamos.
Essa noite era um autêntico muro de lamentações, em que as
orações ao Menino Jesus eram poucas ou nenhumas.
A segunda noite de Natal, em 1967, passei-a no Quartel da
Amura, em Bissau, já ‘órfão’ de ´pai e mãe’, pois o meu Batalhão e a minha
Companhia, em Outubro de 1967, haviam já regressado à Metrópole.
Nessa última Noite de Natal, algures em África, só bendizia
estar vivo e esperançoso de voltar ao local que havia deixado em 25/8/1966.
E assim foi. O meu Menino Jesus me prendou: em 27/8/1968,
pisei novamente o chão que me viu partir.
José Amaral
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