Nasci no concelho de Armamar em 1943. Em 1957, já na cidade
do Porto, aguardava completar 14 anos de idade para poder frequentar o ensino
nocturno, enquanto trabalhava de dia.
Depois de estar já a estudar, o que mais me entristecia,
enquanto trabalhava, era presenciar o cortejo alegórico estudantil prenhe de
alunos muito alegres, enquanto eu, já muito cansado, ia a pé, chovesse os não,
para as aulas nocturnas, pois só estudei de dia até à quarta classe.À noitinha, depois de sair do trabalho às 19 horas, só jantava lá para depois das 22 ou 23 horas, após sair das aulas.
Aos poucos fui constatando que tais afortunados, que iam todos os anos nesses cortejos, só ‘desciam à rua’, junto ao povo, nessas alturas.
Depois, para os vermos, teríamos de pagar a consulta.
Também sabia que, nesses tempos, havia praxes académicas, mas, comparadas às praxes de hoje, é como estarmos num radioso dia de sol em amena cavaqueira ou, agora, estarmos no meio de um improvável tsunami, tendo em conta ao que de tenebroso se passou na Praia do Meco, não falando de outras e anteriores situações de grande gravidade, passadas no mundo estudantil.
Já me interrogo com a possibilidade de termos governantes que, defensores e ou antigos praticantes de tais cerimónias de cangalheiro, possam estar à frente dos destinos colectivos da nação e da sociedade que ela integra.
Parece que estamos a formatar objectos para guerrear e não formar pessoas para que possam vir a ser úteis à sociedade em que se inserem.
Mentes que tais actos extremos praticam e aqueles que a tais situações se acomodam não podem ser mentes sãs em corpos sãos. Podem ser tudo, mas não serão uma mais-valia no sentido humano e civilizacional.
José Amaral
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