sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

O número

“As pessoas crescidas gostam de números…”.

Não sei por quê, veio-me à ideia esta frase do narrador, em O Principezinho de Antoine Saint-Exupéry, quando, há dias, li que Portugal é um dos países mais desiguais da Europa, que essa situação se agravou com a intervenção da troika e que se vai agravar mais com o OE de 2014.
Já estou em “decrescimento”. Talvez por isso, sou excepção à regra do narrador de O Principezinho. Gosto pouco de números. O que é uma fragilidade, já que tudo está a ser “ajustado” como meros números: saúde, educação, justiça, emprego, cultura, condições de trabalho e de vida, dignidade até. Somos (des)governados não por “principezinhos” vindos do asteróide B612 mas por “baronetes” e “baronesas” (um ou outro “barão” mais “irrevogável”…) que, talvez por serem oriundos(as) de certo “asteróides” ideológicos, adoram números e desprezam as pessoas.
Mas, entretanto, em muito do que “vejo, ouço e leio”, sinto “que não posso ignorar” um certo número.
É certo que é um número rejeitado por muita gente. Com ele, há quem não coma em certas mesas, não faça uma declaração (ou acto) de amor em certas noites (ou dias), não se case em certos sábados (e ainda menos em certas sextas).
Mas, apesar disso, um número que é excepção à minha aversão aos números pela importância humana, social e democrática do que significa. “Só” isto: “Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica ou condição social”.
Isto é o que reza o artigo da Constituição da República Portuguesa com a epígrafe “princípio da igualdade”. Ao qual foi atribuído esse número.
É esse número que, cada vez mais, sinto que não pode ser ignorado. É o 13. Sim, o treze. É esse o número.

João Fraga de Oliveira


 

 

 

 

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