sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

em O LIVRO EM BRANCO (página 43)


O Trabalho

 Ulmeiro, ulmo ou olmo
É o mesmo que olmeiro,
Não é trocadilho jocoso
É nas letras verdadeiro,
Porque de si é fibroso,
É sólido e é elástico,
Dá sombra ao trabalhador
Sem para ele ser cáustico,
Nem o tornar seu escravo
Como Esopo o foi,
Mas sim deixá-lo sonhar,
Quando ao lavrar com o boi,
Cansado da sua lida,
Não medir a força que tem,
Porque seus braços só são
Mealheiros sem vintém.

 E tal como o ulmeiro
Eu equiparo o Trabalho
Que é força, querer e vontade
Não só do punho e do malho,
Mas de todo aquele que vende
O suor do seu rosto,
Pondo em acção seus neurónios,
Em seu lugar, em seu posto.

 Mas no mundo do Trabalho
Há deveres e obrigações,
Mas pensam certos senhores
Não dar pão, mas privações.
 E, assim, não há consenso,
Tudo grita: não há pão!
Bate-nos à porta a miséria,
Espectro mesmo à mão.

 nota: poema urdido antes de Outubro de 1988

 José Amaral

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