segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Ainda as praxes

Tem-se dito muito sobre as praxes. Alguns consideram-nas fonte de todos os males, aproveitando um caso dramático, concluem de forma precipitada de que as praxes devem ser proibidas. Como se isso fôsse possível… Autoridades universitárias e associações académicas são contra a proibição, por temerem mais riscos , atirando actividades para a clandestinidade, o que tornaria mais difícil controlar o comportamento dos estudantes. E têm razão. O que deve existir é um reforço do acompanhamento dos estudantes por parte das autoridades universitárias e governamentais para prevenir e reprimir as praxes violentas, nomeadamente,  actos de selvajaria, mesmo barbárie, de humilhação, ataques torpes á dignidade humana, que constituem flagrante violação dos direitos humanos. O que se tem passado com as praxes e a dimensão da gravidade dos actos que têm sido praticados numa pretensa intenção de receber “condignamente”  os jovens na Universidade é também fruto de uma crise de valores. A inversão de valores toma conta hoje em dia , da sociedade, das instituições, começando na família. A falta de respeito é generalizada, os jovens, alguns não se respeitam  nem se dão ao respeito. Em vez de  unirem esforços  para construir um mundo melhor, em acções concretas válidas, perdem-se, alguns, em actividades de  imbecilidade, embrutecimento ,  como autores morais e materiais , de atentados à vida humana… 
Já existe lei penal para aplicar nos casos mais graves, e por isso deve reprimir-se de forma implacável todos os actos ilícitos. A propósito da crise de valores que se vive, cito só umas partes de um texto de 1871 : “o pais perdeu a inteligência, e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos , as consciências em debandada, os caracteres corrompidos… Ninguém se respeita… Em parte  e, infelizmente, é a sociedade que também  temos hoje. As declarações do Dr Emídio Guerreiro sobre o trágico caso do Meco são pertinentes, embora a Senhora Bastonária, Eliana Fraga, não concorde. “ a praxe não é aquilo, nem nunca foi”… O Dr. Emídio Guerreiro foi estudante de Coimbra , participou em actividades relativas à praxe , viveu a praxe e na época não havia violência . A praxe teve origem em Coimbra há muitos anos e foi depois “importada”, “copiada “ e mal por estudantes de outras universidades. Mesmo o trajar de capa e batina era tradição do estudante  de Coimbra foi “imitada” por estudantes de outras universidades, sem anos de tradição nem a mística que sempre  houve  na cidade do Mondego. Também eu vivi a praxe de Coimbra nos meus tempo de Faculdade de Direito, e nunca presenciei cenas de violência , nem havia noticia de actos menos correctos. Que me lembre assisti a casos alguns cómicos, por exemplo , a orquestra Pitagórica dos estudantes, cujos instrumentos eram os mais incríveis, chocalhos, tachos, panelas, abanos, biberons para de vez em quando  se saciarem… Num espectáculo que assisti , foi anunciado com solenidade pelo maestro em pijama, a peça do compositor “ Fuga de Berlioz”… Qual não foi o espanto dos espectadores mal começaram os primeiros acordes… começaram os elementos da orquestra a fugir… era a “Fuga de Berlioz” na sua genuína e original interpretação… Foi a risota geral… Também assisti ao discurso do meu colega e saudoso Dr. Lucas Pires, em frente da Faculdade de Letras, dirigida a uma estátua… Como o meu querido e saudoso colega tinha grandes dotes oratórios, foi “mobilizado” , agora o termo  é“praxado”, para mostrar aos “doutores” a sua eloquência que mais tarde veio a confirmar-se, como politico, e Professor Catedrático.  Por fim não posso deixar de referir outro episódio cómico : Numa república os “doutores” mobilizaram um caloiro para com um pau de vassoura ficar a porta . Tinha a alta missão de quando passasse uma moça gira, talvez tricana… “gritasse” ás armas para os doutores se assomarem ás janelas , apreciarem algo… Mas o caloiro não era estúpido  quis fazer uma gracinha… Passou uma velhinha coitadinha , muito debilitada, e de bengala , mal  podia caminhar… Coitada já tinha sido nova … o caloiro mal a viu gritou ás armas , os “doutores” vieram ansiosos a janela e deparam-se com outra imagem que estavam á espera…  O castigo que lhe foi aplicado foi pena suspensa e prestação de serviços á comunidade dos doutores da Républica, servir á mesa e talvez como paga “ teve de cantar muitas serenatas ás donzelas “…. Como antigo estudante de Coimbra penso que devem continuar as praxes com repressão das praxes radicais e atentatórias da dignidade humana. 

Francisco Casal Pina  

3 comentários:

  1. Se estas 6 mortes, fora o resto de brutal e estúpodo que vem a acontecer neste últimos, 10 ou mais anos, em torno dos estudantes, nas diversas Universidades e Politecnos - mesmo que possivelmente de forma minoritária, são praxes, devem acabar. Se é um aproveitameto inadequado do que são de facto as praxes, acabe-se com este comportamento inadequado.

    Mas, mas, nao façamos todos de conta que, o que todos vemos pelas ruas - de humanamente humilhante....- e sabemos acontecer ,nao acontece, ou deve ter que continuar a acontecer. Ou entao continuamos a fazer de conta e nao prercamos mais tempoi a falar "nisto"!!!

    E morram e não só mais jovens...

    Augusto

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  2. Seguindo a lógica de que a proibição aumenta os riscos, coisa pacóvia, não se devia proibir o roubo ou o insulto, porque iria criar-se uma situação pior. Isto, ou anda muita gente louca, ou eu já estou passado dos carretos, porque discordo em absoluto da defesa das praxes, porque acho abomináveis tais comportamentos, indignos de seres racionais.

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    1. Sem dúvida Joaquim.

      Isto, ou anda muita gente louca, ou eu já estou passado dos carretos, porque discordo em absoluto da defesa das praxes, porque acho abomináveis tais comportamentos, indignos de seres racionais.

      Abraço

      augusto

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