Tem-se dito muito sobre as praxes. Alguns consideram-nas
fonte de todos os males, aproveitando um caso dramático, concluem de forma
precipitada de que as praxes devem ser proibidas. Como se isso fôsse possível… Autoridades
universitárias e associações académicas são contra a proibição, por temerem
mais riscos , atirando actividades para a clandestinidade, o que tornaria mais
difícil controlar o comportamento dos estudantes. E têm razão. O que deve
existir é um reforço do acompanhamento dos estudantes por parte das autoridades
universitárias e governamentais para prevenir e reprimir as praxes violentas,
nomeadamente, actos de selvajaria,
mesmo barbárie, de humilhação, ataques torpes á dignidade humana, que constituem
flagrante violação dos direitos humanos. O que se tem passado com as praxes e a
dimensão da gravidade dos actos que têm sido praticados numa pretensa intenção
de receber “condignamente” os jovens na
Universidade é também fruto de uma crise de valores. A inversão de valores toma
conta hoje em dia , da sociedade, das instituições, começando na família. A
falta de respeito é generalizada, os jovens, alguns não se respeitam nem se dão ao respeito. Em vez de unirem esforços para construir um mundo melhor, em acções
concretas válidas, perdem-se, alguns, em actividades de imbecilidade, embrutecimento , como autores morais e materiais , de atentados
à vida humana…
Já existe lei penal para aplicar nos casos mais graves, e por
isso deve reprimir-se de forma implacável todos os actos ilícitos. A propósito
da crise de valores que se vive, cito só umas partes de um texto de 1871 : “o
pais perdeu a inteligência, e a consciência moral. Os costumes estão
dissolvidos , as consciências em debandada, os caracteres corrompidos… Ninguém
se respeita… Em parte e, infelizmente, é
a sociedade que também temos hoje. As
declarações do Dr Emídio Guerreiro sobre o trágico caso do Meco são
pertinentes, embora a Senhora Bastonária, Eliana Fraga, não concorde. “ a praxe
não é aquilo, nem nunca foi”… O Dr. Emídio Guerreiro foi estudante de Coimbra ,
participou em actividades relativas à praxe , viveu a praxe e na época não
havia violência . A praxe teve origem em Coimbra há muitos anos e foi depois
“importada”, “copiada “ e mal por estudantes de outras universidades. Mesmo o
trajar de capa e batina era tradição do estudante de Coimbra foi “imitada” por estudantes de
outras universidades, sem anos de tradição nem a mística que sempre houve na
cidade do Mondego. Também eu vivi a praxe de Coimbra nos meus tempo de
Faculdade de Direito, e nunca presenciei cenas de violência , nem havia noticia
de actos menos correctos. Que me lembre assisti a casos alguns cómicos, por
exemplo , a orquestra Pitagórica dos estudantes, cujos instrumentos eram os
mais incríveis, chocalhos, tachos, panelas, abanos, biberons para de vez em
quando se saciarem… Num espectáculo que
assisti , foi anunciado com solenidade pelo maestro em pijama, a peça do
compositor “ Fuga de Berlioz”… Qual não foi o espanto dos espectadores mal
começaram os primeiros acordes… começaram os elementos da orquestra a fugir…
era a “Fuga de Berlioz” na sua genuína e original interpretação… Foi a risota
geral… Também assisti ao discurso do meu colega e saudoso Dr. Lucas Pires, em frente
da Faculdade de Letras, dirigida a uma estátua… Como o meu querido e saudoso
colega tinha grandes dotes oratórios, foi “mobilizado” , agora o termo é“praxado”, para mostrar aos “doutores” a sua
eloquência que mais tarde veio a confirmar-se, como politico, e Professor
Catedrático. Por fim não posso deixar de
referir outro episódio cómico : Numa república os “doutores” mobilizaram um
caloiro para com um pau de vassoura ficar a porta . Tinha a alta missão de
quando passasse uma moça gira, talvez tricana… “gritasse” ás armas para os
doutores se assomarem ás janelas , apreciarem algo… Mas o caloiro não era
estúpido quis fazer uma gracinha… Passou
uma velhinha coitadinha , muito debilitada, e de bengala , mal podia caminhar… Coitada já tinha sido nova …
o caloiro mal a viu gritou ás armas , os “doutores” vieram ansiosos a janela e
deparam-se com outra imagem que estavam á espera… O castigo que lhe foi aplicado foi pena
suspensa e prestação de serviços á comunidade dos doutores da Républica, servir
á mesa e talvez como paga “ teve de cantar muitas serenatas ás donzelas “….
Como antigo estudante de Coimbra penso que devem continuar as praxes com
repressão das praxes radicais e atentatórias da dignidade humana.
Francisco Casal Pina
Se estas 6 mortes, fora o resto de brutal e estúpodo que vem a acontecer neste últimos, 10 ou mais anos, em torno dos estudantes, nas diversas Universidades e Politecnos - mesmo que possivelmente de forma minoritária, são praxes, devem acabar. Se é um aproveitameto inadequado do que são de facto as praxes, acabe-se com este comportamento inadequado.
ResponderEliminarMas, mas, nao façamos todos de conta que, o que todos vemos pelas ruas - de humanamente humilhante....- e sabemos acontecer ,nao acontece, ou deve ter que continuar a acontecer. Ou entao continuamos a fazer de conta e nao prercamos mais tempoi a falar "nisto"!!!
E morram e não só mais jovens...
Augusto
Seguindo a lógica de que a proibição aumenta os riscos, coisa pacóvia, não se devia proibir o roubo ou o insulto, porque iria criar-se uma situação pior. Isto, ou anda muita gente louca, ou eu já estou passado dos carretos, porque discordo em absoluto da defesa das praxes, porque acho abomináveis tais comportamentos, indignos de seres racionais.
ResponderEliminarSem dúvida Joaquim.
EliminarIsto, ou anda muita gente louca, ou eu já estou passado dos carretos, porque discordo em absoluto da defesa das praxes, porque acho abomináveis tais comportamentos, indignos de seres racionais.
Abraço
augusto