Como forma de
legitimar a dominação exercida sobre a população, pelos nossos governantes,
fiéis discípulos das políticas neoliberais, na era do capitalismo selvagem, o
discurso imperante desde o dealbar da crise tem sido o de afirmar, de forma
propagandística e como forma de “lavar as mãos”, que se “tem vivido acima das
nossas possibilidades” - camuflando assim a verdadeira responsabilidade da
agenda neoliberal no deflagrar da crise económica e financeira.
Na realidade, o que
causa mais estupefacção é que estas políticas são-nos impostas sem nenhum tipo
de aceitação social, o que, diga-se de passagem, numa sociedade democrática, é
deveras preocupante. Acresce que este tipo de corrente ideológica, que é
profundamente desigual na distribuição da riqueza, preocupando-se somente com
as exportações das grandes empresas, precipitando para a insolvência as
pequenas e médias empresas e colocando no desemprego os seus trabalhadores. Com
a agravante de que esta ideologia tem como principal objectivo a obtenção do lucro,
“custe o que custar”, não tendo um pingo de ética, nem sensibilidade social, na
aplicação das suas medidas. O que realmente importa é aproveitar todas as
oportunidades para privatizar o erário público, abrindo espaço para a
desregulação financeira e desregulando por completo as relações laborais.
Como se não bastasse,
temos um primeiro-ministro que, disfarçado de D. Sebastião, vestiu a capa do
empreendedorismo, sendo um verdadeiro campeão nesse domínio. Esqueçamos, assim,
a história, a filosofia e as ciências sociais em geral. O que importa é seguir
os ditames do “chefe” e criar por “geração espontânea” um empreendedor em cada
um de nós.
Nuno Abreu (Público 21/02/2014)
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