«O
sorteio 'Factura da Sorte' tem por finalidade valorizar e premiar a cidadania
fiscal (…)”. Assim reza o comunicado do Conselho de Ministros de 6/2/2014.
Sedimentámos
a convicção de que, consistindo (basicamente) a cidadania na participação na / da
vida de uma comunidade da qual efectivamente se faz parte, pagar os impostos é
um acto de(a) cidadania. Isto na medida em que pagar os impostos é uma
contribuição para o “bem comum”, presumindo-se ser deste essência aquilo que
mais determinante é na condição humana e social de cada um e de todos,
designadamente, a saúde, a educação, a segurança social, a justiça, a cultura,
a segurança pública, etc...
Por
isso, reconhecemos a legitimidade geral dos impostos, porque, individual e
socialmente, sem impostos não poderia haver, através do Estado, a concretização
daqueles direitos sociais emergentes do “bem comum”.
Mas
o Governo, assumindo estar a fazer uma “revolução silenciosa”, querer
“transformar a sociedade portuguesa”, “mudar paradigmas e mentalidades”, objectivamente,
quer agora que os portugueses passem a pensar que pagam os impostos (só) porque
na “Factura da Sorte” lhes pode sair, “chave na mão”, um “carro de gama alta”.
Assim,
depois da sangria fiscal que é o “enorme aumento de impostos” (sangria muito
sugada ao “bem comum” pelo vampirismo dos agiotas da dívida, da especulação, da
fraude e corrupção financeira, das PPP, dos swaps,
das isenções, subvenções e “exportações” fiscais, das mordomias, assessorias e
consultadorias governamentais, etc.), temos a lotaria fiscal, dita “cidadania
fiscal”.
De
cidadãos, passamos então, como apostadores-fiscais, a “cidadãos-fiscais”. “Aos
Ferraris, cidadãos!”
Mas
há um risco (que também é “fiscal”) que o Governo deve prever. É o de que a
“mudança de paradigma e mentalidade” induzida pela “Factura da Sorte”
transforme os portugueses, irrevogavelmente, de cidadãos que pagam impostos por
cidadania em “cidadãos-fiscais” que, futuramente, só os paguem por terem
passado à “mentalidade” de FDP (“fanáticos dos popós”) de “gama alta”.
O caminho que este Governo gizou para o país, na sequência dos governos anteriores, é irreversível para a destruição de um sentimento pátrio e de fraternidade. O Governo quer que todos sejamos fiscais dos nossos semelhantes, na esperança de uma abominável gorjeta. Isto, além de abjecto, é a sementeira da desconfiança permanente. Só pessoal que concorda com as infames praxes pode magicar estas manobras e, como podemos constatar, muita gente do poder e da sua área, são filhos e coniventes com tão baixa exibição de carácter.
ResponderEliminarIsto é o País que somos, ou o País que temos??????
ResponderEliminarA observação é oportuna e contundente. O país somos nós. Sem pessoas não há país. Aliás, foram os paisanos que formaram os países. Isto anda tudo ligado. Um abraço lusitano
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