terça-feira, 29 de dezembro de 2015

A NOVA LINGUAGEM

Não falarei mais a linguagem dos partidos. Não falarei mais a linguagem da economia. Falarei como Jesus, Sócrates ou Nietzsche. Chegou a minha vez de me dirigir aos homens e às mulheres. Venho combater os mercadores e os vendilhões do templo. Mas também o homem pequeno que trepa e inveja. Amo as mulheres belas, mesmo que elas amem o ouro. Amo a liberdade e a justiça. Procuro o ser e não o ter. Todavia, vejo as pessoas separadas, fechadas em grupos, muitas isoladas. As próprias conversas normalmente não são elevadas, são triviais, corriqueiras. Está tudo cheio de medo do papão. De perder o emprego, de perder o cargo, de perder o dinheiro. As pessoas não se movimentam à vontade. Andam controladas. Só alguns escapam. E mesmo esses, algumas vezes, têm problemas de solidão ou de dinheiro. Ainda assim são homens e mulheres livres. Não obedecem a ordens nem têm patrões. Nem sequer têm nada a perder. É aqui que cheguei. Posso dizer e escrever tudo o que me apetece. Posso insultar o governo, o Presidente, os banqueiros, os empresários, os especuladores, a Merkel, o Obama. Posso gozar com esta merda toda. Posso dizer que o caos está próximo, como disse na RTP. É claro que preciso de um pouco mais de atenção, é claro que preciso de mais companheiros. No entanto, sei que digo o que poucos dizem. No entanto, sei que há forças suficientes para formar, quiçá, um novo partido ou um novo movimento. Porque sei que há gente descontente, gente que também põe em causa a linguagem dos partidos. Gente que pensa mais ou menos como eu.

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