PARAÍSOS CHEIOS DE NADA
O ar livre é
o primeiro terreno de investimento no lúdico. Desliza-se na água, lança-se uma
pedra, escorrega-se num tronco, mergulha-se de uma rocha. O homem revê-se na
busca de experimentar a natureza que lhe oferece o seu corpo de diversão, onde
tudo começa, Terra-mãe, local das primeiras exorcizantes sensações.
O homem das
cavernas imitava-se representando-se nas paredes dos seus abrigos, desenhava as
suas investidas de caçador, os animais, o que via. De um pedaço de pau fazia
uma arma, de um bocado de pele uma protecção. Transformava o que podia para
sobreviver e para se entreter, pintava e explorava o seu meio.
Muitas vezes
usou formas extremas de rir, como no Coliseu, em Roma, onde aplaudia a morte.
Montou no dorso de animais que o transportavam, partiu no gozo do desconhecido
e foi transformando o mundo, a ele adequou as suas maneiras de brincar, tirou
partido da evolução que ia criando.
Walt Disney,
com um enorme desejo de entreter as pessoas, de as fazer esquecer o dia a dia e
aproveitando ao máximo o progresso tecnológico da sua época, põe em marcha o
seu sonho. E nascem os parques temáticos, mundos apolíticos, limpos, risonhos,
com personagens fantásticas que nos abraçam – os príncipes, os bichos, as
histórias do nosso encanto.
Entrar no
mundo artificial e mágico dos parques temáticos afugenta a nossa capacidade
crítica. Na Euro-Disney embarcamos enfeitiçados pelos longos desfiles de cor e
luz, temos os bonecos ali ao nosso lado, podemos tocá-los. Lá estão todos os
ingredientes para nos adormecer . O clima irradia muita emoção, festa
permanente, transbordante de prazer e vertígem; não é preciso pensar em mais
nada.
Estes parques
são o ponto culminante da nossa era de lazer e divagação, experiências
sensoriais, paraízos do nada.
NOTA – Texto
extraído de um trabalho de João de Arbués Moreira, publicado há anos pelo JN e
transcrito por
Amândio G.
Martins
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