Este lugar está apinhado de carpas, que se acercam a nós, beiços
abertos, bocarras fundas, rapinando alimento.
Não, foi só um sonho menos bom. Desperto, reconsidero a
irrealidade de um sonho mau.
Este lugar não está à cunha de peixes encantadores. Como se pode
fazer uma conexão sináptica destas – excentricidades neuronais?
A realidade sim, está lotada de banqueiros, dos bons. Os que não
o somos, azarucho nosso, contribuímos
com gosto- de nos pudermos gabar, de boca cheia, pulmão feito – para alimentar
esta incubadora de negócio, uma bela de uma start-up,
estimulamos com o nosso consentimento, como se pede (diria melhor se obriga?) a
vitalização moderna da nossa economia.
O Presidente não se cansou de dizer – na sua magistratura de
influência - que o nosso futuro, a nossa diferenciação, era escancararmo-nos
sem medos ao mundo? Pela iniciativa privada, pelas boas ideias, alavancas do
desenvolvimento?
Tem mais do que razão sábia, apesar de ser mal-amado por alguns,
que se desculpam nos seus sermões aos peixes - neste caso gado vacum - para rebaixar o saber de cátedra
de um mestre longamente experimentado na mui nobre arte da banca.
Os do PSD, os do CDS, os do BE, os do PCP, as forças vivas e
mortas em geral (incluindo todos nós), sempre fomos conhecedores da excelência
desta classe, por isso, agora a exultamos tão nataliciamente.
Até já temos um depósito de crio-preservação de banqueiros –
único no mundo. A qualquer momento, haja a necessidade, temos capacidade
instalada de ressuscitar uns tantos e colocá-los onde necessário. No socorro de
desvalidos, numa associação mutualista fenecente, onde fizer falta, porque brio
e competência inquestionável para uma gestão de sucesso, é uma marca nossa.
Devemos lançar petardos de festa, sairmos todos à rua com aquelas
coisas do carnaval que apitam e desenrolam uma língua do tamanho de um metro,
histéricos de alegria.
Somos um povo abençoado, não é Montepio? E a caixinha geral,
anda benzinho?
Publicado hoje, dia 27.12.2015, no jornal Público.
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