Cada
vez mais me sinto desiludido com Cavaco Silva. A última descoberta do sr.
presidente cessante é que a “governação ideológica acaba sempre por ser
derrotada pela realidade”. Quer ele dizer na sua que só se pode/deve governar
sem ideologia? Mas então, isso não é, em si mesmo, uma ideologia? Quem quer
enganar este professor? Ora, o que ele provavelmente queria dizer e não lhe
chegou a língua, é que não se deve governar com ideologia “de esquerda” porque,
na sua fraseologia atabalhoada, a direita, a tal que se subordina aos
superiores ditames dos mercados, não precisa de ideologias e assim é que se
conquista a felicidade dos povos. Melhor não diria Salazar, para quem o
português comum deveria confinar-se à irrelevância política, deixando-se de
“ideologias” e adoptando como sua a conhecida frase “a minha política é o
trabalho”. Não satisfeito com tantos pensamentos profundos, Cavaco não
prescindiu de alertar os portugueses para os perigos da falta de confiança dos
empresários investidores no nosso País, sobretudo se os seus cidadãos insistirem
em andar por aí a pensar alto e a difundir “ideologias”. Não sei se o sr.
presidente cessante se referia aos empresários do sector financeiro que,
amparados por governantes “pragmáticos e sem ideologia”, como os do anterior
governo, não param de dar as “barracas” que lhes apetece e apresentar, no final,
as respectivas facturas aos de sempre, os tais que se devem afastar de
“ideologias”. Só me apetece plagiar o
antigo rei Juan Carlos: por qué no te
callas?
Público - 26.12.2015
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