Sabedoria da libertação, sabedoria do desapego… estas palavras martelavam na minha cabeça enquanto conduzia, depois de um outro pensamento em que lembrei como seria doloroso dizer adeus a determinados afectos.
Como é difícil amar e ter que dizer adeus. Pela partida, pela ruptura, pela morte…Das tantas formas diferentes que a vida nos reserva.
Também associei este sentimento ao apego material. Quantas vezes já observamos, em algumas pessoas, um sofrimento atroz na hipótese de perderem o seu poder sobre as coisas?
Todos estes pensamentos, acontecem precisamente uma semana antes de passar por uma das maiores provações da minha vida: o falecimento do meu pai. O ser que eu mais admiro (ainda não consigo usar a expressão no passado), uma pessoa linda em toda a sua dimensão.
A SABEDORIA DO DESAPEGO… o conseguir aceitar, o deixar partir, sem revolta, sem sofrimento.
Sei agora que nada acontece por acaso. Percebi que um espírito sábio antecipou e preparou a minha alma para o que viria.
Neste momento, mais que nunca, tento aplicar a sabedoria do desapego. Pôr em prática tantas das minhas teorias sobre estes assuntos.
Mas não é fácil!
Racionalmente sabemos, que a morte está presente desde o momento do nosso nascimento, mas emocionalmente não aceitamos quando acontece. É mais fácil acreditar que os nossos amores são eternos… Que os nossos afectos não morrem!
À luz das minhas crenças mais profundas, quero acreditar que sim! Que os nossos amores não morrem e os nossos afectos permanecem para além da morte.
Só acreditando aceito que lá, onde possa estar meu pai, minha mãe e todos aqueles que amo, o sentimento forte que nos uniu prevalecerá para sempre no meu espírito enquanto tiver memória.
É difícil, mas é necessário para que as dores mútuas sejam mais fáceis de ultrapassar.
Saber deixar partir, aceitando como benéfica a partida, só depois de muitos ensinamentos de muita reflexão. Porque todos os amores, os presentes e os ausentes, são importantes para a nossa sobrevivência, a nossa continuidade.
Sabedoria está no aceitar, no acreditar que continuamos, embora não fisicamente, a comunicar e a lembrar desses afectos, desses amores como se apenas estivessem distantes geograficamente.
Libertação… desapego… aceitar que a distância entre a vida e a morte é muito ténue, sentimentos que deveríamos trazer quando vimos ao mundo.
Não é assim! Temos que ir conquistando esse desapego através de ensinamentos, de meditação.
"Conta-se, que uma mulher muito rica foi visitar um homem muito sábio com quem se queria consultar. Ao entrar na sua pequena cela, ficou estupefacta pela pobreza do lugar. Perguntou então ao homem sábio, porque não tinha moveis, o porquê de tanta pobreza? O homem sábio devolveu a pergunta, perguntando-lhe pelos seus móveis, ao que ela retorquiu, não tenho, pois estou apenas de passagem. Então, o homem sábio serenamente respondeu, eu também!”
Efectivamente estamos apenas de passagem! Uma passagem mais breve ou mais longa, mas apenas de passagem!
Logo, os bens materiais, tal como os afectos, deverão ser usufruídos de acordo com as nossas necessidades, mas sem apegos dolorosos, pois será sempre de forma breve.
A meu pai com todo o amor que me ensinou
11.03.2008, 11,55h
E o pai, feliz estará, por a sua filha ter sido tão boa aluna.
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