quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Direita e esquerda, conceitos esvaziados

Com a globalização, que tem sido mais económica e financeira do que política e ideológica, os conceitos de direita e de esquerda que tão bem se defenderam entre os anos 50 e 70 do século XX, hoje, estão definhados.

E usa-se o termo mais para denegrir o outro, quando se sabe que ele/ela pensa de forma diferente de nós, mas não se vai ao cerne da questão, dado que isso dá muito trabalho e muitos nem sabem do que se trata. Colam umas fi guras ou uns figurões à direita e à esquerda e está feito.

Talvez, modernamente, tenhamos de nos deixar de slogans e ir ao passado não tão longínquo repescar o conteúdo de termos, reformulá-los aos dias de hoje e debatê-los com lealdade, transparência e menos agressividade.

A direita sempre defendeu mais o indivíduo, a nação, a soberania, menos Estado, menos impostos, menos distribuição de rendimentos, mais ricos, mais privado e menos público, menor regulação. Por contraponto a esquerda não comunista, dado que essa é estranhamente diferente, defendeu, e bem, o social, o colectivo, o global e solidário, mais Estado, mais impostos e mais distribuição de rendimentos, mais público no fundamental, mais liberdades e mais regulação.

Tanto direita como esquerda, sempre foram e são a favor da propriedade privada, quer de imóveis, quer de meios de produção, de lucro e rendimento. Claro que a direita sai excessivamente do Estado, entregando tudo aos privados, e a esquerda tenta, e bem, conservar e gerir não para o lucro tudo o que seja de utilidade pública, e tudo o que possa gerar monopólios privados, mas proclama em simultâneo a propriedade privada.

A direita é por norma contra o aborto, o testamento vital, a morte assistida, ao contrário da esquerda, que é a favor.

Hoje, estamos todos um pouco disfuncionais também nestas áreas, nestas definições, e na aplicação do que elas ao tempo de hoje podem ser e conter.

E deveríamos gastar todos muito mais do nosso tempo com isto do que com banalidades, o

disse-que-disse-mas-afinal-não-disse, com a maledicência, com reality shows, com coisas muito superficiais, muito passageiras, e que não nos ajudam a ter futuro.

Será possível? (...)

Augusto Küttner de Magalhães
(Público, 21.12.2015)
Porto

2 comentários:

  1. Essa da direita defender a soberania, deve ser para nos rebolar-nos a rir, não é verdade Sr. Augusto? Portanto, direita/esquerda são "banalidades". A melhor forma de desvalorizar-mos uma coisa, é retirar-lhe importância, banalizá-la...

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