segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

A Máscara


A Máscara

30 DEZ 2018 / 02:00 H.




    Marcelo de Sousa, actual Presidente da República, é um vaidoso disfarçado. Nada do que faz, nenhum dos seus gestos, nenhuma braçada em águas paradas ou revoltas, são dadas sem terem sido bem reflectidas, desenhadas, ensaiadas na sala dos espelhos do seu ginásio onde se põe a desfilar e a projectar o populismo que entende provocar. Trabalha para o bronze e para a imagem que sabe lhe renderá continuidade na bolha populista. E fá-lo sabendo que com esperteza, o Zé pacóvio lhe oferecerá os ombros para o carregar até ao púlpito e à manutenção da cadeira de sonho e do poder. Ele, já o afirmamos, gosta de governar, e ser mais do que dois em um. Quer que as suas ideias, avisos, conselhos, propostas, ameaças, sejam atendidas, contempladas e satisfeitas. Tudo quanto faz, obedece a muito ensaio. Quando lança um comentário, já previu o seu efeito, e já tem outro na manga e no garganil, para ripostar se algo falhar ou for mal sucedido. Marcelo Rebelo, é um ex-jornalista e mais outros “ex-”, que gosta de ouvir gabar-lhe, que aprendeu e exercitou o verbo e a manha num tempo ido, e disso faz uso e proveito. Ele próprio se reforça, lembrando-nos que é inteligente, dorme pouco e tem memória de elefante. Pressiona de acordo com os acontecimentos e o momento mais a propósito em adversário fragilizado. Está em todas e sempre com apetite. Nunca está em casa, descansa q.b. e semeia por campos, vilas, bairros e cidades, a sua ambição camuflada de saber ser próximo, em falsa peregrinação. Não é tão sério quanto quer parecer. É um programador, agitador frenético por detrás de biombo fosco, e actor na base de tudo que suporta o espectáculo que o país observa. O seu palco, é um espaço onde possa actuar e apresentar os seus floreados que ornamentam, ruas, vielas, mesas de pedra e de sueca velha, apostador e presença de solidariedade, como engraxar sapatos na praça pública, afeitar-se em barbeiros tradicionais, praias e salões solenes. É um personagem que não dá ponto sem nó. Tudo é premeditado. Nada nele é improviso, um acaso. Ele é notícia à solta, nunca surpresa. Mas gostava de o ser e trabalha para isso, e para a próxima eleição e nomeação, que lhe dará a continuidade do protagonismo. Ele é um maduro muito trabalhado, que se julga mestre e sábio, indispensável, num país que ele sabe enxerga mal e vive através de um olho, mas que dá para o ver à distância nesta terra adiada. E é neste contexto, que um ou outro possuído de ambição, se perpetua no poder, com o apoio dos que julgam ver melhor e mais longe, agitando bandeirinhas!





    OUTRAS NOTÍCIAS




    O BRASIL FAZ MARCHA ATRÁS




    O Brasil, a oitava economia do mundo, o maior país da América Latina 100 vezes maior que Portugal, 209 milhões de habitantes. Amanhã, formalmente, começa uma nova etapa. Uma etapa de regressão civilizacional. Terá ao seu leme um homem que se diz profundamente cristão. Uma das primeiras leis que vai promulgar é a que liberaliza totalmente a venda de armas. Outra, é a que autorizará a polícia a atirar a matar. Isto, num país onde no último ano aconteceram 69.000 homicídios. Ou seja, o homem que se diz profundamente cristão, o homem que teve o apoio incondicional de uma das seitas mais fanáticas e obscurantistas, a IURD, viola uma das leis de Cristo que diz: NÃO MATARÁS!
    Na pasta da Justiça, Bolsonaro irá ter o “imparcial” Sérgio Moro, o homem que meteu Lula na prisão. Na outra importantíssima pasta, a das Finanças, irá contar com o ultra liberal banqueiro, Paulo Guedes, que já anunciou um ambicioso programa de privatizações, que é como quem diz, a entrega ao grande capital indígena e estrangeiro do que de mais valor o Brasil possui. O povão, esse, vai matar-se mutuamente. Nem os poucos índios que ainda restam na Amazónia se safam. Bolsonaro diz que todo o Brasil é de todos. Assim, a própria Amazónia, o pulmão do planeta, vai ainda ser muito mais devastada.
    É isto, e muito mais, que espera o Brasil. É claro que a história dos povos e da humanidade, é no sentido do humanismo e não da barbárie. Mas, por vezes, dá passos atrás com terríveis consequências, como se sabe. Mas, também a partir de amanhã ou já hoje, começa a luta pela recuperação e dignidade do gigante sul-americano que tanto nos diz.
    Francisco Ramalho
    Corroios, 31 de Dezembro de 2018



    Até podia ser interessante...


    Diz a notícia que Elvis Presley, que cumpriu serviço militar na cidade alemã de Friedberg,  ganhou lá uma praça com o seu nome e uma animação da sua figura gingona nos semáforos das passadeiras para peões que, quando acende o verde, são brindados com o famoso balançar dos quadris daquela estrela do rock .

    Ora isto parece-me um contrasenso porque pode contribuír para que as pessoas, entretidas com aquilo, se esqueçam de atravessar e deixem passar o seu tempo, passando de novo a vermelho; além de que a brincadeira terá custado perto de um milhão de euros, que  as autoridades esperam recuperar com o previsível aumento do turismo.

    O que isto me sugere para cá é que as nossas autoridades, sobretudo nos grandes centros urbanos, podiam utilizar a ideia nos semáforos do tráfego automóvel; de facto, para aqueles sujeitos que costumam acelerar a marcha  no sinal intermédio amarelo, passando os cruzamentos já no vermelho, se pusessem umas beldades “in naturalibus”, em poses eróticas, no lugar do amarelo, é bem provável que quisessem apreciar aquela arte...


    Amândio G. Martins

    Os mentirosos não podem triunfar

    Estávamos habituados a considerar que o que a Der Spiegel publicasse era indesmentível. Que bom, tínhamos uma sólida âncora para agarrar, neste mundo de logro que tantos poderosos manipulam para levar a água ao moinho deles. Já tínhamos Trump, Bolsonaro e Putín e, não esqueçamos, Zuckerberg. Temos agora o escândalo de Claas Relotius que, em vez de colocar a sua inventiva ao serviço de uma brilhante carreira no campo da ficção literária, a usa para ganhar a vida e muitos prémios de jornalismo… enganando os leitores de uma prestigiada revista. Logo aquela, a Spiegel, conhecida por perscrutar, à lupa de isentos especialistas, tudo o que lá se publica.
    Depois de a realidade nos ter forçado a virar a belíssima página em que acreditávamos na “bondade” das redes sociais - que tinham aparecido para desmascarar os mentirosos deste mundo - já todos tínhamos interiorizado que deveríamos confiar cegamente apenas na imprensa séria. Mas, alto lá! Cegamente, não, porque até ela pode ser ludibriada por um qualquer “sedutor”. Há que defendê-la acerrimamente, sim, no conforto de que, por ser séria, esta imprensa sabe reconhecer os erros que comete, como fez a Spiegel, que explicou o embuste em que caiu. E isso, pela sua própria natureza, nenhuma rede social há-de fazer.

    Público - 05.01.2019 (expurgado das partes sublinhadas).

    domingo, 30 de dezembro de 2018

    Discursos plásticos


    - A conversa é antiga mas a vontade parece pouca. Discute-se muito sobre o projecto de acabar com o plástico que tudo embala, e agora até a servir de arma de morticínio na fauna marinha, que procura alimento - o plástico. Matéria perigosa, que merece imensa discussão e alargados projectos para a sua eliminação, surge-nos sob diversas formas de embalagens de demagogia com que nos alimentam desde o pequeno almoço até ao jantar. Dizem ser preocupação de especialistas e de Ministérios do Ambiente e de Governos que gastam comissões. Não é tetra, é treta. Já há sectores comerciais que até dão prémio a quem souber dar bom uso para a sua recolha e reciclagem, que serve de engano enquanto incentivo ao consumo. Mas como não há bela sem senão, eis que os criadores e produtores de embalagens tetra pack, que até agora colocavam no mercado vasilhame só em cartão, decidiram meter na caixa do leite e dos sumos, com o fim de tratarem da saúde do povo, uma tampa em plástico e deste modo facilitar o uso da coisa. Sistema até agora dispensável, que só vem fazer mais lixo. Para além do produto ficar mais caro ao consumidor, ainda por cima lhe metem na abertura, uma rolha que contribui para a poluição - a tampa. Será que eu vejo mal e ando a beber vinho a mais, em vez de água da fonte, que devia correr pura, cristalina, e sem artifícios que vão encher de morte a casa e o mar?*

    -*(hoje 1ºJanª2019 in DN.madrª-intgrl)
    -*(JN-08.02,c/arrjo)
    2 anexos
     - A conversa é antiga mas a vontade parece pouca. Discute-se muito sobre o projecto de acabar com o plástico que tudo embala, e agora até a servir de arma de morticínio na fauna marinha, que procura alimento - o plástico. Matéria perigosa, que merece imensa discussão e alargados projectos para a sua eliminação, surge-nos sob diversas formas de embalagens de demagogia com que nos alimentam desde o pequeno almoço até ao jantar. Dizem ser preocupação de especialistas e de Ministérios do Ambiente e de Governos que gastam comissões. Não é tetra, é treta. Já há sectores comerciais que até dão prémio a quem souber dar bom uso para a sua recolha e reciclagem, que serve de engano enquanto incentivo ao consumo. Mas como não há bela sem senão, eis que os criadores e produtores de embalagens tetra pack, que até agora colocavam no mercado vasilhame só em cartão, decidiram meter na caixa do leite e dos sumos, com o fim de tratarem da saúde do povo, uma tampa em plástico e deste modo facilitar o uso da coisa. Sistema até agora dispensável, que só vem fazer mais lixo. Para além do produto ficar mais caro ao consumidor, ainda por cima lhe metem na abertura, uma rolha que contribui para a poluição - a tampa. Será que eu vejo mal e ando a beber vinho a mais, em vez de água da fonte, que devia correr pura, cristalina, e sem artifícios que vão encher de morte a casa e o mar?




    A contragosto...


    Um “coco” que não Chanel sufocava
    Numa miscelânea  insuportável
    Tudo por ali era descartável
    E nada daquilo lhe agradava.

    Foi para agradar a quem convidava
    Para não parecer insociável
    Mas a coisa não foi nada agradável
    Dada a grosseria que imperava.

    Que muita gente junta não se salva
    É sua filosofia de vida
    E ninguém o convence estar errado;

    Porque quando trocou a vida calma
    Por outra qualquer estranha surtida
    Recorda ter passado um mau bocado...


    Amândio G. Martins

    sábado, 29 de dezembro de 2018

    "Estou tranquilo" e "mais ninguém me disse nada"...

    Ainda ontem falei do "caso" de Borba, mas vejo-me na necssidade de voltar ao assunto. É que o autarca de Borba, António Amselmo, que, no dia do aluimento da estrada, afirmou "estou tranquilo!" (sic), vem agora dizer que sabia do assunto desde 2014, tendo havido mesmo uma reunião da vereação com a Direcção Regional de Economia do Alentejo (DREA)  onde foi planeada uma outra mais alargada aos empresários do mármore e aos cidadãos que passavam na dita estrada. Planeada mas.... não convocada pois, diz o mesmo presidente da autarquia, "mais ninguém me disse nada" (sic)! Palavras para quê?

    Fernando Cardoso Rodrigues

    “Un portugués de mierda”...


    Um desses patrioteiros ridículos de meter dó, mas exibindo-se a dar lições a toda a gente, publicou na “Página do Leitor” do JN um texto a que chamou “Crónica da visita de um lusitano a Olivença”, no qual faz questão em demonstrar  ser  um sujeito completamente desprovido de boas maneiras.

    Diz, a dado passo, a criatura, que assina Santos Pereira: “Cheguei a Olivença pelas zero horas e, no magnífico hotel de referência, obriguei o empregado a falar-me em português; de manhã, ao pequeno almoço, fiz o mesmo. Depois dirigi-me à igreja da Madalena, tendo sido recebido pela cicerone, que me interpelou com um sonoro “buenos dias”, tendo eu respondido com um “bom dia” em tom cavernoso; de seguida rumei à confeitaria Becerra, onde uma empregada pouco portuguesa tentou impor-me o seu castelhano, mas logo lhe perguntei se o patrão a não ensinava a falar português: respondeu-me de pronto na nossa língua. Boa!”.

    O comentário que isto me desperta é que este pobre diabo, pretensioso e malcriado, teve sorte em não encontrar naqueles trabalhadores  alguém ao seu nível; de facto, como aqueles cidadãos espanhóis  não têm nada a ver com a situação de Olivença, ao verem-se tratados com modos de carroceiro poderiam perfeitamente pagar-lhe na mesma moeda e dizer: “Usted és un portugués de mierda”...


    Amândio G. Martins

    sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

    Borba: responsabilidade ou....?

    A notícia de ontem chegou-me como se de uma assumção total por parte do governo, relativamente à derrocada da estrada entre Borba e Vila Viçosa, fosse. Afinal assim não era. O governo assume uma indemnização às vítimas mas, mesmo essa, pode ter retorno, no caso de o inquérito não responsabilizar o Estado. E os "problemas" começam logo na definição daquela última palavra, como se viu com a as palavras de António Costa na Assembleia da Reública, aquando do acidente. Agora o que me parece é que a estrada era óbviamente perigosíssima... como se via nas fotografias. E onde estavam os cidadãos que por lá passavam? Perderam a voz ou acreditaram no "não há-de ser nada" tão português? Fica-me ainda uma dúvida: que faz a figura da senhora Provedora da Justiça na avaliação dos montantes das indemnizações? Até poderia fazer sentido, como advogada dos cidadãos se...., sendo um cargo importantíssimo, não tivesse um longo historial ( a Provedoria) de bons conselhos á administração pública... que quase nunca são ouvidos!

    Fernando Cardoso Rodrigues

    Quadra natalícia e hipocrisia


    Nesta quadra natalícia as instituições vieram mais uma vez dar mostras da sua hipocrisia, a falar de igualdade e injustiça social, chamando a atenção para alguns que têm muito e outros que têm pouco, ou nada.
    Curiosamente, nesses mesmos discursos, não deram conta do que está mal, não desmontaram nada, nem demonstraram nada – houve apenas uma refeição de bacalhau para pessoas que passam o ano inteiro com falta de alimentos básicos para si e para as suas famílias.
    Houve instituições partidárias que foram a espaços onde se pratica alguma solidariedade, mas o objectivo não é (não foi) resolver o problema das carências familiares, mas apenas dar conta à sociedade de que estiveram lá, e as televisões registaram e transmitiram imagens dessas presenças.
    Podiam aproveitar para dar conta de grandes desníveis salariais que existem entre as várias categorias profissionais, que alguma imprensa tem dado conta, em que um administrador ganha centenas de vezes mais do que ganha cada um dos muitos funcionários que criam riqueza para esse administrador possa usufruir desses altos rendimentos.
    Estamos nesta época do ano, em que estas práticas se têm repetido ao longo de décadas e tem continuado tudo na mesma.
    Para terminar tal como iniciei, vivemos numa sociedade cheia de hipocrisia, degenerada, em que uma parte esclarecida, anda a enganar a outra parte, mais ou menos adormecida, e convencida de que um dia bom vai chegar.


    Justiça vs. direitos humanos...


    Um homem em estado terminal, em prisão preventiva sem admissão de fiança, está impedido pela justiça de ser internado num hospital competente para lhe minimizar o sofrimento, com o estafado argumento de perigo de fuga e destruição de provas, apesar de todos os testemunhos médicos garantirem que pode  morrer a qualquer momento.

    Trata-se de Eduardo Zaplana, membro do Partido Popular espanhol e ex-ministro, em cujo exercício terá cometido as ilegalidades que o levaram a ter de prestar contas; mas ninguém entende que, sofrendo de leucemia, as autoridades judiciais lhe não concedam a possibilidade de tratamento em lugar próprio, como recomenda o hematólogo que conhece o seu estado, com pulseira electrónica ou outro meio qualquer, em vez de o obrigarem a dolorosas e constantes viagens entre a prisão e o hospital.

    E foi bonito de se ver que, ao pedido do líder do PP, Pablo Casado, para um tratamento mais humano, outros líderes políticos o secundaram, como Pablo Iglésias, do Podemos, partido que se posiciona nos antípodas daquele partido direitista, dizendo que “los derechos humanos están por encima de cualquier ideologia”...


    Amândio G. Martins

    quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

    Mensagem pouco natalícia de Costa


    O discurso de Natal do 1º ministro, também foi o tiro de partida para as campanhas eleitorais
    do PS, a realizar em 2019.
        António Costa disse que não se ilude com os números. Vai nos iludindo (enganando) despejando milhões de euros na banca… Afinal, há dinheiro! Esperávamos soluções, ouvimos
    intenções. Foi poucochinho. Falou da necessidade de cativar os jovens, os mais instruídos de que há memória, em cá permanecer. Porém o Observatório da Emigração revela que têm emigrado 90 000 pessoas/ano. Referiu a pobreza e as assimetrias, mas o seu governo tem sido incapaz de taxar as fortunas multimilionárias ou acabar com as rendas obscenas das PPP, ficando enleado numa contradição. Quase 1/5 da população é pobre! As questões sociais/funções sociais do Estado estão em declínio, sendo inaceitável o governo ser tão ortodoxo em querer alcançar um défice zero(!). Elencou o desafio demográfico com uma das prioridades, dizendo que não se resolve só com a emigração, sendo necessário oferecer condições aos jovens para se realizarem profissionalmente. O diagnóstico é assertivo, mas… a retórica está desfasada! O emprego é precário e os salários são (sobretudo) míseros. Assim, não há condições para fixar jovens que sairão à procura de melhor vida. São formados com o nosso dinheiro e vão trabalhar para o estrangeiro. Isto é má política! A valorização do trabalho e dos trabalhadores passa por  salários dignos, que poucos o têm… A legislação do trabalho estimula a precariedade, desregula os horários e não promove a contratação colectiva.
         Fica-lhe mal sr. António Costa imprimir ao seu discurso uma dinâmica de medo, falando em retrocesso. Isso era a cíclica narrativa passadista do malquisto desgoverno anterior…

                      Vítor Colaço Santos
     

    A lista secreta...


    As cartas de Marcelo e demais líderes ao Pai Natal, forjadas no JN por Pedro Ivo de Carvalho, têm alguma graça; vou transcrever parte daquela que o presidente “escreveu”.

    “Este ano, como só completei 70 juvenis primaveras, estava a pensar em algo fora da caixa. Da caixa de ressonância mediática, claro. O que eu queria mesmo, sabes, Pai Natal, era silêncio. Há dias em que se torna penoso ouvir o presidente falar sobre tudo quando chego a casa e ligo o televisor. O comentador em mim diz: “Modera-te, Marcelo”. Mas o presidente em mim contrapõe: “Comenta, Marcelo, Portugal está à espera que digas alguma coisa”. Eis a minha lista.

    1-      Gostava de fazer uma Presidência Aberta com os portugueses que não vão votar em mim nas próximas eleições, para perceber a fundo as razões e tentar chamá-los à normalidade. Como cabem todos no banco de trás do meu Mercedes, íamos no mesmo carro, poupando esforço ao erário público. É uma dúvida que me inquieta: será que estes três cidadãos não vêem televisão, não ouvem rádio nem consultam jornais?

    2-      (...)
      
    3-      Por último, e correndo o risco de soar um pouco a Miss Universo, desejo ardentemente a paz no Mundo, em particular na sede do PSD, mas também o fim de todos os populismos. E quando digo isto não estou a pensar nos coletes amarelos portugueses. Até porque ficou provado que nunca deu bom resultado imitar os franceses. Veja-se o que aconteceu ao Tony Carreira”...



    Amândio G. Martins






    quarta-feira, 26 de dezembro de 2018


    Sociedades do desperdício...


    Os números parecem tão inverosímeis que a gente só pode ficar de boca aberta e olhos arregalados; é que ver desperdiçadas sete milhões e setecentas mil toneladas de alimentos por ano, num montante calculado em 11 mil milhões de euros só em Espanha, país que, embora relativamernte abastado, também tem muita gente a passar carências, não é para menos.

    Mas foi o que fiquei a saber pelo programa “Equipa de Investigação”, do canal televisivo espanhol “La Sexta”, que se propôs saber coisas acerca dos prazos de validade impostos aos mais diversos produtos de grande consumo, tendo sido recolhidos testemunhos credíveis que asseguram que grande parte desses produtos se mantêm em condições de poder ser consumidos por um prazo que vai muito para lá do que consta dos rótulos.

    É claro que a pretensa defesa da saúde pública justifica muita coisa, tendo alguns laboratórios interrogados afirmado que aqueles prazos são, em muitos casos,  meramente indicativos; em todo o caso, dizem alguns analistas, aquela medida foi uma grande conquista e não deve ser minimizada.

    Um jornalista inglês, que levantou o problema, chegou a demonstrar, comendo produtos com muitos meses para lá do prazo, que eles estavam em perfeitas condições de conservação, resultando o seu abate, por força dos prazos de validade, num indesculpável desperdício de bens alimentares que retirariam da fome muita gente por esse mundo fora, já que o exemplo apontado pode ser multiplicado por muitos...


    Amândio G. Martins

    terça-feira, 25 de dezembro de 2018

    A CRIAÇÃO DO NOVO HOMEM

    Uma questão essencial se coloca. São os seres humanos irremediavelmente egoístas, maléficos, materialistas ou podem tornar-se essencialmente bons ou santos ou divinos? Se é verdade que até aqui errámos, vamos trabalhar no sentido da criação de um novo homem e de uma nova vida. A avidez das riquezas, infelizmente, é comum a grande parte da Humanidade. Quem quiser vir ter com Jesus terá que distribuir tudo o que tem e trocar os bens visíveis e presentes pelos futuros e invisíveis. Ou seja, queimemos as posses e o dinheiro. 
    Todo o homem vê com angústia o dia de amanhã. Receia que o pão lhe falte. Jesus proclama: "Não vos preocupeis mais com o dia de amanhã. Olhai as aves do céu!" O que importa é o presente. A construção do Reino. A transformação do Homem. A elevação do espírito. A iluminação. O Paraíso.

    Da filosofia budista e outras...


    "As decisões que dão forma a uma vida consciente:

    Quando sentir receio e ansiedade, não confie na voz do medo.
    Quando se encontrar numa situação caótica, descubra uma maneira de trazer ordem e calma.

    Quando se deparar com um conflito, não tome qualquer decisão até a ira se ter dissipado. Quando encontrar resistência às suas ideias mais preciosas, tome em consideração o ponto de vista daqueles que lhe oferecem resistência.

    Quando sentir a tentação de condenar outra pessoa, veja se o que odeia nela está oculto dentro de si.

    Quando se debater com um problema, decida se deveria suportar a situação, tentar remediá-la ou afastar-se. Depois de decidir, aja de acordo com a sua decisão.

    Quando souber a verdade, defenda-a.

    Como o caminho opera a mudança em si:

    Sente menos isolamento, mais ligação a tudo à sua volta.
    A insegurança é substituída por uma sensação de segurança.
    Tem a sensação de pertença.
    As exigências do “eu, mim e meu” deixam de ser tão fortes.
    Consegue ver as coisas de uma perspectiva mais ampla do que a do seu interesse pessoal.
    Age sob o impulso de ajudar e de servir.
    A vida e a morte fundem-se num só ciclo. A criação e a destruição deixam de ser assustadoras.
    “Nós contra eles” desvanece-se. As divisões parecem menos significativas.
    O estatuto e o poder tornam-se menos importantes.
    Os altos e baixos da vida diária não têm tanto impacto sobre si.
    Sente que as suas acções são guiadas. A vida deixa de ser aleatória e cheia de crises iminentes.
    Sente mais equilíbrio e mais paz interior”.


    Nota – transcrito do livro anexo.


    Amândio G. Martins

    segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

    Dr.João Gonçalves, nem que queira, não sairá do transe

    Ocupante residente da 2ª página do JN às segunda-feiras, o jurista-articulista que não consegue ver o país que não seja em transe, brindou-nos na véspera do dia de Natal com uma crónica de alto valor... destrutivo. Não obstante a repulsa que sempre sinto ao lê-lo, saúdo a sua sinceridade. De facto, não é hipócrita, recusando-se a alinhar com aqueles votos de Boas-Festas que todos, mais ou menos, vamos semeando por aí, uma grande parte das vezes sem sentirmos, na realidade, o que estamos a dizer.
    Longe de pensar que o Dr. João Gonçalves deva engrossar as fileiras do Amor e da Amizade que, de repente, assola os pacatos cidadãos, durante umas horitas, para, depois, esquecerem completamente a bonomia artificial, tão conveniente para a quadra “pacífica”, não posso deixar de registar o azedume (ou será mesmo ódio?) por aquilo de que não gosta.
    Tenha calma e paciência, senhor doutor. Nem tudo é assim tão maléfico. E olhe que o populismo (muitos de nós sabemos o que é, esteja descansado) é mesmo mauzinho para a “saúde”. A si, já lhe atacou o fígado, de certeza. A avaliar pela bílis que destila…

    É tudo lícito?

    Hoje, enquanto almoçava, ouvi, em tom de "rap", uma interpretação da balada triste, linda e acusatória cantada pelo Adriano Correia de Oliveira , que fala do ".... soldadinho que nunca mais se faz ao mar....". Senti-me triste com aquilo! A glosa é livre mas... esta balada! Ainda por cima, aproveitava somente o " menina dos olhos tristes, o que tanto a faz chorar " como estribilho ( tudo o resto - "olhe senhor pensativo..." e " senhora de olhar cansado....", " vem numa caixa de pinho... coitado do soldadinho..." - não era cantado) e havia sim uma nova letra que nada tinha a ver com o que conhecíamos e cantávamos da balada origunal. Saberá esta gente que o que Adriano cantava era melodicamente melancólico e incisivo na condenação da guerra colonial e por isso.... tristemente lindo? Quero crer que não, senão o assunto seria mais grave.
    Vivemos um tempo em que, talvez pelo modelo epocal da nossa civilização, tenta-se arranjar, "a martelo", ligações espúrias entre todos os tipos de música, mas aqui.... é muito mais que isso pois é uma "agressão" pateta a uma canção datada que devia ser imaculada para nossa memória! A voz da moça até era bonita e fiquei sem lhe saber o nome... o que até foi bom pois assim não lhes fico com "raivinha"...

    Fernando Cardoso Rodrigues

    o "Special"

    - Segundo a imprensa inglesa, José Mourinho, o "special one", recentemente despedido do Manchester U., nem as cozinheiras do clube gostavam dele. Ou seja:- Não iam à bola com ele. Mas também de acordo com o The Sun, parece que andava a comer por fora, um belo petisco. O técnico português, é sem dúvida o "special" mesmo fora dos estádios relvados ou até pelados. Pelos vistos também sabe meter o garfo e comungar fora da mesa conjugal. É de mestre!

    O Morto deu sinais de vida?


    Quando deu entrada nas urgências do hospital distrital, já os familiares – devido a padecimento prolongado e irreversível – contavam que não lhe sobravam muitos dias de vida.
    Mas, como a esperança é a última a morrer, ninguém se convenceu de que seriam tão poucos os dias em que o senhor Edmundo iria continuar entre os seus.
    Passados cinco dias, mal o Sol despontava por detrás do pequeno monte, chegou à aldeia a notícia que ninguém queria que o fosse: o tio Edmundo tinha falecido por volta das quatro da manhã (sabe-se lá porquê, constava-se que naquele hospital muitas pessoas morriam por volta daquele hora).
    Começaram as diligências com vista ao reconhecimento do corpo, o velório e o funeral.
    Foi no velório que tudo se passou de maneira pouco normal para os costumes, não só da aldeia, como também de todos os falecidos: o senhor Edmundo levantou-se do caixão, ficou algum tempo sentado, olhou as pessoas à sua volta, e achou tudo aquilo muito estranho – já tinha estado algumas vezes naquela sala, a participar em velórios de familiares ou amigos, mas a sua estranheza subiu de tom quando se apercebeu do seu papel no meio de toda aquela realidade.
    Chamou o filho mais velho, que estava próximo, apenas para pedir que confirmasse as suas dúvidas, se aquilo que estava a acontecer naquela sala era mesmo verdadeiro, ou se seria ele que estava envolvido num dos piores sonhos ou mesmo num pesadelo.
    O filho esclareceu-o sobre as suas dúvidas, e que já se tinham chamado as entidades oficiais, nomeadamente o médico e os bombeiros – talvez quisesse dizer INEM.
    Quando estes chegaram ao local, e depois de se inteirarem da situação, um bombeiro apenas declarou que ao longo dos anos e da sua experiência, nunca tinha visto nada assim; o médico, que chegou pouco tempo depois, disse às pessoas que – embora muito raramente - estas coisas às vezes acontecem: “o cadáver vai ficando rijo nas horas que se seguem ao falecimento, de que podem resultar estes movimentos mecânicos”.
    O óbito foi confirmado pela segunda vez, o falecido lá ficou – provavelmente muito desanimado – dentro do caixão, em forma correcta, talvez frustrado por não participar no seu próprio funeral.
    Mas era assim que tinha de ir – e foi.


    Da ilusão dos valores efémeros

    Olívia e Eugénio, personagens do livro anexo, conheceram-se quando estudantes e tiveram um relacionamento e uma filha, mas o apetite dele por uma vida faustosa levou-o a trocá-la por uma herdeira rica; transcrevo parte de uma das muitas cartas que ela lhe escrevia para a gaveta, a que ele teve acesso depois de ela ter morrido.
         
                                                         ************                                        

    ...”Lembras-te daquela tarde em que nos encontramos nas escadas da Faculdade? Mal nos conhecíamos, tu me cumprimentaste atrapalhado, eu te sorri um pouco desajeitada e cada qual continuou o seu caminho. Tu naturalmente me esqueceste no instante seguinte, mas eu continuei pensando em ti; e não sei porquê, fiquei com a certeza de que ainda havias de ter uma grande importância na minha vida. São pressentimentos misteriosos que ninguém consegue explicar.

    Hoje tens tudo quanto sonhavas, mas no fundo te sentes ainda como aquele Eugénio indeciso e infeliz, meio desarvorado e amargo subindo as escadas do edifício da Faculdade envergonhado da sua roupa surrada. Tens tido crises de consciência, não é mesmo? Pois ainda passarás horas mais amargas. Li muitas vezes o teu nome ligado ao do teu sogro, em grandes negócios, monopólios e não sei mais quê. Estive pensando na fúria cega com que os homens se atiram à caça do dinheiro. É essa a causa principal dos dramas, das injustiças, da incompreensão da nossa época.

    Peço-te que abras os olhos, Eugénio, que acordes enquanto é tempo. Peço-te que pegues na minha Bíblia, que está na estante dos livros e leias apenas o Sermão da Montanha.  Os homens deviam ler e meditar nesse trecho, principalmente no ponto em que Jesus nos fala dos lírios do campo, que não tabalham nem fiam e no entanto nem Salomão em toda a sua glória jamais se vestiu como um deles. Está claro que não devemos tomar as parábolas de Cristo ao pé da letra e ficar de papo para o ar, esperando que tudo nos caia do Céu. É indispensável trabalhar, pois um mundo de criaturas passivas seria também triste e sem beleza. Mas precisamos dar um sentido humano às nossas construções. E quando o amor ao dinheiro, ao sucesso, nos estiver deixando cegos, saibamos fazer pausas para olhar os lírios do campo e as aves do Céu.

    Há na terra um grande trabalho a realizar. É tarefa para seres fortes, para corações corajosos. Não podemos cruzar os braços enquanto os aproveitadores sem escrúpulos engendram os monopólios ambiciosos, as guerras e as intrigas cruéis. Temos de fazer-lhes frente. É indispensável que conquistemos este mundo, não com as armas do ódio e da violência e sim com as do amor e da persuasão.Considera a vida de Jesus. Ele foi antes de tudo um homem de acção e não um puro contemplativo. Quando falo em conquista, quero dizer a conquista de uma situação decente para todas as criaturas humanas, a conquista da paz digna, do espírito de cooperação. E quando falo em aceitar a vida não me refiro à aceitação resignada e passiva de todas as desigualdades, malvadezas, absurdos e misérias do mundo”...


    Amândio G. Martins



    domingo, 23 de dezembro de 2018

    Boas-Festas sem desigualdades nem discriminações

    Em épocas de Natal, no fervilhar das compras e das luzes, há duas palavras que nunca abandonam o meu pensamento.

    A primeira é desigualdades. Socorro-me do texto publicado hoje, no Público, por Frei Bento Domingues, para uma interpretação livre: como é que é possível que, em tempos de grande prosperidade mundial, com “recursos, ciência e técnica” nunca disponíveis como na actualidade, grassem tantas desgraças (humanamente evitáveis) e fome por esse mundo fora? Só há uma resposta possível: a acumulação dos recursos foi apropriada por uma casta de gente que não devia pertencer à Humanidade. Pior ainda: além desses recursos que a produção humana aumentou, foi ainda buscar parte dos que as classes mais baixas já detinham. Só assim se compreende o aumento imparável do fosso entre os (muito) ricos e os pobres, dizimando, pelo meio, aquilo a que costumamos chamar a classe média.

    A segunda palavra é discriminação. Neste caso, vou socorrer-me de uma “Rádio” que, ao que sei, difunde os seus programas em diversos suportes radiofónicos. Trata-se da “Rádio Aurora - A Outra Voz”, que conheço da Antena Um, em horas pouco convidativas, uma vez por semana. O programa semanal é produzido e realizado no Hospital Júlio de Matos, por pessoas com diagnóstico psiquiátrico. Vale a pena ouvir, pela qualidade exibida. Chego a pensar que conheço programas radiofónicos, realizados por profissionais, em ambientes dotados dos adequados meios técnicos, que não ficam a ganhar-lhe na balança da qualidade. É, sobretudo, um grito contra a discriminação que, inexplicável e cruelmente, os doentes daquela “classe” sofrem na pele, bem pior que a que atinge tantos outros doentes.

    Estamos no Natal. Impõe-se aos que, como quase todos nós, foram insuflados dos princípios judaico-cristãos desde o biberão, exprimir um desejo de Boas-Festas. Aqui estou a fazê-lo, cumprindo essa “obrigação”. Creiam que com toda a sinceridade, mas sem nunca deixar de pensar nas desigualdades deste mundo, nem na discriminação de que tantos sofrem, não só pela doença, mas pela cor da pele, pelo género, pela religião, pela classe, pelas ideias.

    Boas Festas e Bom Ano


    Muita caridade e muito pouca Inclusão


    Nesta quadra
    das noites de consoada
    os sem-abrigo c’os pés
    rapados
    calçados
    c’o as plantas dos pés no alcatrão
    já não dormem no chão
    têm de palhas, colchão.
    Ai!, são tantos Zés!!
    Que me parte o coração.
    Caridade a quanto obrigas
    tirem-lhes de misérias as barrigas…
    el’é o presidente
    selfi-contente,
    el’é o padreco
    caritativo,
    el’é o banqueiro vigarista,
    el’é o agiota prestamista…
    Todos à uma p’rá sua salvação,
    caridade sim, Formação,
    Inclusão
    ou Rendimento Social de Inserção,
    Não!
    Nunca levanta a cabeça, quem sempre estende a mão.
    E assim vai esta assistencialista Nação…


         Vítor Colaço Santos  

    Apostila: Aos votos expressos pelo camarada jornalista, José Amaral,
    aqui na Voz da Girafa, igualmente lhe Desejo um Natal Alegre
    e um Saudável ano de 2019!

    Não há países perfeitos

    Portugal nunca será um país perfeito. Todos os portugueses o deviam saber, mas, por algum descontentamento congénito, achamos sempre que somos uma “desgraça”, sob o fogo de Pedrógão, a terra de Tancos, a água de Borba ou o ar de Valongo. Agora, temos os “coletes amarelos”, um sintoma igualmente congénito do nosso mimetismo relativamente a outros que, bem lá no fundo, consideramos “superiores”. Neste caso, os franceses que, na verdade, são superiores a nós, sim, mas no chauvinismo. É claro que os portugueses têm muitos motivos de queixa da actual situação, coisa em que não diferimos dos franceses nem dos europeus em geral. Com greves plantadas a esmo, e nem todas pelas centrais sindicais, aparentadas aos partidos de esquerda, seria natural que nascesse um movimento genuíno de protesto. Ms quê? Só “aquilo”? Tão poucos “gatos despingados”, nem uma escola secundária faria menos. Conclusão: globalmente, o país está melhor do que em 2012, com moles humanas a protestarem contra um governo e uma troika odiosos. Há muitos descontentes - e com razão - mas a maioria não se esquece da crueldade de há seis anos atrás.