O reparador de solidões
Nos nossos dias é usual encontrarmos nas nossas caixas de
correio pequenos anúncios de pessoas singulares a publicitarem os seus
préstimos profissionais. O meu preferido é aquele elaborado por um mestre curandeiro que trata de doenças, maus olhados, invejas, azar ao amor, sorte no infortúnio, enfim. Outros são peritos em carpintaria, pintura,
lavagem de roupa, arrumações, canalizações, electricidade, caldeiras, pavimentos e tudo o que numa casa,
por vezes, necessita de arranjo. Ora, nem só as casas precisam de arranjos, tá bom de ver.
Nós, por vezes, precisamos também de certos cuidados. Neste anúncio, que
encontrei por acaso, o senhor que o elaborou, para além de todas aquelas
situações usuais que envolvem pequenas reparações decidiu acrescentar uma
outra. Ao escrever “Quer só conversar ou ter companhia?” decerto estará a
pensar numa faixa de cidadãos que, privados de companhia, impossibilitados de
poderem aceder todas as noites ao Facebook ou de frequentarem bares ou
discotecas, se vêem um pouco solitários e por isso tristes. Os idosos serão
assim, julgo eu, o alvo deste habilidoso reparador de solidões. De que forma o
faz, não faço a mínima ideia. Este é um dos problemas que esta sociedade gerou.
A solidão. Aos idoso será mais difícil de arranjar forma de a contornar e isso
já me levou a pensar, que ao nível de pequenas freguesias e com o número de
desempregados existentes, bem que se podiam criar bancos de voluntariado para
ajudar estas pessoas a suportarem o seu dia-a-dia solitário mas também a
ajudá-los em muitas outras pequenas tarefas. Ainda um destes dias ao ver uma
reportagem na TV passada em Pitões das Júnias apareceu a senhora que fazia o pão lá
na aldeia a comentar o quanto lhe custou ter estado em Paris ida directamente da
aldeia para uma grande cidade. Dizia ela que se sentiu muito triste pois não
tinha com quem falar e até na rua lhe causava estranheza as pessoas não se
saudarem.
Um "bom dia" não custa assim tanto, pois não?