I
Sou autor de perto de seis
centenas de cartas publicadas em diversos jornais, que recorta e guarda
religiosamente esses bocados de jornais com enorme prazer. Onde procuro como
cidadão expressar a minha opinião nos mais diversos assuntos. Mas há no entanto
um assunto, que por norma nunca tive a ousadia de falar=escrever, foi quando da
minha passagem por terras africanas, quando do serviço militar obrigatório. Somente
uma vez, tive essa tal ousadia, que sempre me tem faltado, e enviei um “escrito”
para o “Correio da Manhã” que foi publicado naquele diário no já longínquo dia
9 de Novembro de 1999, para falar sobre a minha passagem pela ex-colónia
ultramarina Angola, quando do cumprimento do serviço militar obrigatório. Como
tal, nunca me despertou a curiosidade ou tenha interesse em contar histórias
acerca de alguns momentos menos agradáveis que vivi, mas não pensem os leitores
ou que se ponham a imaginar que existem “fantasmas” a bailarem na minha cabeça ou
que seja "tabu" em falar sobre este tema. Talvez a realidade e a culpa seja
somente uma, alguma preguiça que me impede de poder contar algumas facetas, mas
penso ao mesmo tempo, que tenha pouco interessante para o(s) leitor(es).
II
A Revista “Combatente”, da
Liga dos Combatentes na edição de Março de 2011, deu o devido relevo para
assinalar os 50 anos do início da Guerra em África no espaço Destaque, com um tema bem sugestivo, “A
guerra em África foi um esforço tamanho da Nação”.
Foi efectivamente um
esforço de todos, não só para todos aqueles jovens que foram chamados e que
estiveram envolvidos directamente no cumprimento das suas missões em terras
africanas, como igualmente para todos os nossos familiares, que também eles
estiveram igualmente envolvidos, mas de outra forma, e que igualmente tiveram
um papel de grande relevo, fundamental e importante, cabendo a eles, uma grande
quota-parte da nossa missão, transformado num acto de grande espírito de
sofrimento, também de grande heroísmo, e de muita ansiedade vivida ao longo do
tempo da nossa ausência e que assim foi repartido por toda a Nação, naqueles
anos em que fomos chamados a cumprir tão digno dever patriótico.
Fui por imposição, assim
como o foram milhares de outros jovens que em nada lucraram e que até ao
momento infelizmente o Estado português, ainda não reconheceu ou recompensou de
todo o nosso sacrifício…como tal, não fui nem me considero mercenário, assim
como o não foram todos aqueles da minha classe.
III
Vem este escrito (à laia
desabafo), a propósito de ter lido num jornal diário da capital, uma frase em que o Capelão do Exército no Kosovo,
padre Guilherme Peixoto…afirmou, e passo a citar…”Quem está em Portugal não imagina
o sacrifício que os nossos militares fazem quando estão em missão no
estrangeiro, longe das respectivas famílias”.
É verdade e deve ser um
enorme sacrifício…
Mas...Provavelmente
deve ser igualmente um grande sacrifício para esses militares e respectivas famílias,
quando auferem os gordos contratos que auferem e que os levam em missões para o
estrangeiro, comparando…para aquilo que ganhávamos quando das nossas missões em
África…vai uma grande diferença, não acha Senhor Capelão ?
Mário da Silva Jesus
O autor escreve segundo a antiga
ortografia
o Mário tem toda a razão!
ResponderEliminarMeu Caro Mário da Silva,
ResponderEliminarAté para não falar do 'humilhante' tratamento dado a esses pseudo militares aquando da época natalícia, altura em que se choram 'lágrimas de crocodilo' por aqueles que estão longe das famílias, as quais estão agora à mão de semear graças às novas tecnologias, quando nós, os 'voluntários', íamos para o Ultramar e o elo de ligação com os nossos entes queridos era somente o 'aerograma'.
Um abraço, consigo no que bem escreveu.
Do ex-furriel miliciano José Amaral, do Batalhão de Caçadores 1877, da CCaç. 1500, na Guiné, de 1966 a 1968.