segunda-feira, 22 de abril de 2013

Do Tempo em que as Crónicas eram Crónicas





Este Domingo, o Público deu-nos de presente, raro neste período de austeridade também na qualidade jornalística, uma dupla entrevista a Miguel Esteves Cardoso e à sua mulher Maria João, conduzida por Anabela Mota Ribeiro. Foi muito interessante ler algumas respostas e voltar a um dos lugares onde fomos felizes como leitores, as crónicas do MEC 
Mas não só: sou de um Tempo, e tento usar este termo sem soar a Matusálem, em que os Jornais eram povoados por extraordinários cronistas, cuja escrita se situava no patamar da Obra de Arte - lembro-me de Eduardo Prado Coelho, de Miguel Sousa Tavares  ou João Bernard da Costa. De um Tempo em que a crónica era a Âncora que  puxava pelo Jornal, e o tornava uma referência e um vício saudável. 
Miguel Esteves Cardoso foi uma espécie de mestre de cerimónias da minha Geração. A Causa das Coisas, por exemplo, é um milagre de multiplicação das palavras e dos conceitos, partindo de Temas aparentemente banais para analisar, observar, afirmar os portugueses. 
Aprendemos, nesses belos pedaços de prosa e de filosofia, que a Vida era muito mais rica do  que pensávamos. Que havia um Tesouro em cada Marca de Maizena, em cada Doce, em cada lugar, em cada palavra, em cada Ditado - que havia Poesia e a Crónica, qual cana de pesca, nos ajudava a trazer à superfície a magia do Mundo. 
Voltarmos à Crónica é muito mais que uma necessidade puramente jornalística. É um Imperativo de sanidade mental: entre tantas notícias de Crimes, Guerras, Crises, Troikas, bem precisamos de um pausa, de uma Crónica que suspenda o Mundo e nos faça sentir, não objectos do Mundo, mas observadores deliciados, como se estivéssemos  numa esplanada, a ver serenamente as ondas do Mar. 

Rui Marques 

3 comentários:

  1. Não senti vontade de ler esta entrevista... embora considere muito bonitas as crónicas que MEC dedica a Mª João. Boa sorte para eles e para todos que passam pelo mesmo...

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  2. O MEC já me cansou com os seus problemas, e já não aguento mais o seu mundo, em que ele e a Maria João são o centro do Universo. Que sejam felizes e olhem à sua volta porque no mundo há mais gente. Não tenho nada contra aos que apreciam todo o seu egocentrismo.

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  3. Do Miguel guardo religiosamente um livro. "Escritica Pop" que reúne críticas a discos (LP's) de música Pop dos anos 80. Era bom nisso. De resto pouco mais. Desta entrevista, que acho desinteressante porque ser demasiado familiar, o que mais me desagrada é o ar do Miguel nas fotografias perante a carinhosa mulher que o beija. Estará enojado? Será que todo o amor escrito não é sentido?

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