terça-feira, 30 de abril de 2013

O fim da linha


Cada dia que passa, as notícias sobre casos de desespero, vividos na actual situação portuguesa, vão-se amontoando, sem que os governantes, a nível nacional ou local, que se julgam relativamente bem instalados na vida, invertam o caminho de desinteresse que os anima e, a nós, cidadãos comuns, nos desanima. Um caso gritante de injustiça social, relatado hoje num diário de expansão nacional que é um cardápio de desgraças, onde se descreve o drama, no limite da tragédia, de uma mulher de 42 anos, desempregada, cujo marido faz apenas uns pequenos biscates, logo também sem emprego certo, que tentou matar-se por envenenamento, arrastando no mesmo acto a própria filha de 8 anos, tendo ambas sido salvas pela avó da criança que, acidentalmente, apareceu no local. Esta notícia devia merecer, como tantas, uma atenção mais demorada.
Na sociedade que a levou a tal situação de angústia, que não lhe vislumbrou caminhos para atenuar o seu sofrimento, vai ser julgada e condenada pelo seu tresloucado acto. A mulher vai ser processada por tentativas de suicídio e de filicídio e terá uma sentença em função dos crimes cometidos e de acordo com o Código Penal.
Cidadãos respeitáveis, com os problemas básicos da existência resolvidos, encenarão o acto judicial e tudo será consumado. Os que vivem no sobrado julgam os que habitam as caves.
A sociedade que paga a justiça e não resolveu em devido tempo a situação que levou esta mulher ao desespero, não sei se tem força moral para a julgar e condenar, sem que também encontre, em si própria, parte da responsabilidade neste acto e nos milhentos que enxameiam o nosso dia-a-dia.
É tempo de reflectir e de aprofundar as causas e não de olhar apenas para os resultados, porque, sem eliminar os erros de base, não pode haver conclusões fidedignas.
A arrogância do poder e o desinteresse pelos mais pequenos, que são os alicerces do edifício social, não podem conduzir-nos a uma estrada de conforto e de harmonia.
Se não forem invertidos os caminhos que querem obrigar-nos a percorrer, esta civilização, como outras no passado, ruirá como um castelo de cartas, mesmo quando parece ter atingido o apogeu sustentada pelo progresso tecnológico e científico, mas esquecendo, o mais importante, que são os valores humanos.

27.04.2013                                                   Joaquim Carreira Tapadinhas 

1 comentário:

  1. Temos que lutar pelos valores humanos, sendo mais humanos, exigindo humanidade.
    Um excelente texto.

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