Cada dia que passa, as notícias
sobre casos de desespero, vividos na actual situação portuguesa, vão-se
amontoando, sem que os governantes, a nível nacional ou local, que se julgam
relativamente bem instalados na vida, invertam o caminho de desinteresse que os
anima e, a nós, cidadãos comuns, nos desanima. Um caso gritante de injustiça
social, relatado hoje num diário de expansão nacional que é um cardápio de
desgraças, onde se descreve o drama, no limite da tragédia, de uma mulher de 42
anos, desempregada, cujo marido faz apenas uns pequenos biscates, logo também
sem emprego certo, que tentou matar-se por envenenamento, arrastando no mesmo acto
a própria filha de 8 anos, tendo ambas sido salvas pela avó da criança que,
acidentalmente, apareceu no local. Esta notícia devia merecer, como tantas, uma
atenção mais demorada.
Na sociedade que a levou a tal
situação de angústia, que não lhe vislumbrou caminhos para atenuar o seu
sofrimento, vai ser julgada e condenada pelo seu tresloucado acto. A mulher vai
ser processada por tentativas de suicídio e de filicídio e terá uma sentença em
função dos crimes cometidos e de acordo com o Código Penal.
Cidadãos respeitáveis, com os
problemas básicos da existência resolvidos, encenarão o acto judicial e tudo
será consumado. Os que vivem no sobrado julgam os que habitam as caves.
A sociedade que paga a justiça e
não resolveu em devido tempo a situação que levou esta mulher ao desespero, não
sei se tem força moral para a julgar e condenar, sem que também encontre, em si
própria, parte da responsabilidade neste acto e nos milhentos que enxameiam o
nosso dia-a-dia.
É tempo de reflectir e de
aprofundar as causas e não de olhar apenas para os resultados, porque, sem eliminar
os erros de base, não pode haver conclusões fidedignas.
A arrogância do poder e o
desinteresse pelos mais pequenos, que são os alicerces do edifício social, não
podem conduzir-nos a uma estrada de conforto e de harmonia.
Se não forem invertidos os caminhos
que querem obrigar-nos a percorrer, esta civilização, como outras no passado,
ruirá como um castelo de cartas, mesmo quando parece ter atingido o apogeu
sustentada pelo progresso tecnológico e científico, mas esquecendo, o mais
importante, que são os valores humanos.
27.04.2013
Joaquim Carreira Tapadinhas
Temos que lutar pelos valores humanos, sendo mais humanos, exigindo humanidade.
ResponderEliminarUm excelente texto.