domingo, 21 de abril de 2013

No caminho do Calvário


O senhor ministro das Finanças numa pose robotizada, como um autómato, veio dizer ao país que o Governo, porque respeita a palavra dos seus antecessores, decidiu impor mais sacrifícios ao povo, cumprindo as imposições da “troika”. Assim como uma espécie de sanções, como as que a ONU, a NATO e outras super estruturas internacionais, resolvem castigar os governados nos países onde os governantes se portam mal.
O Prof. Doutor Victor Louçã Gaspar, aureolado de génio no tratamento abstracto dos números, condição que não é de menosprezar e da qual devemos felicitá-lo, ficou-se pelo campo que domina de forma excelente, e não desviou a sua atenção para a realidade que são as pessoas. Todos sabemos que este senhor e os seus colegas de Governo não criaram o lodaçal, que é a situação económica e financeira que atravessamos, mas, com um pouco de reflexão, analisando as condições de sacrifícios a que a maioria do povo está e vai continuar a estar submetida, salta à vista, que mesmo que, para pagar a nação se torne famélica, depois já não tem força para se reerguer. É o destroçar de um país, de uma civilização, de um POVO.
Têm de ser tomadas medidas urgentes que ultrapassem esta paz podre que domina a vida portuguesa. Que interessa que quando estivermos de tanga, se não morrermos antes disso, possamos ir ao “mercado” contrair mais dívidas a juros ruinosos e ultrajantes. Disse o senhor primeiro-ministro que se formos “bonzinhos”, dentro de dois anos, os “mercados” confiarão em nós e vamos poder neles entrar. Um país em recessão, endividado até mais não, não tem possibilidade de pagar juros e de cumprir prazos tão curtos. A nossa dívida externa, como as de outros países em situações semelhantes, tem de ser escalonada no mínimo em meio século, redimensionada no sentido descendente, quer em juros quer no seu quantitativo, para poder ser um factor real da economia europeia. De contrário, serão números apenas a considerar nas estatísticas. Quem são os credores destes povos? É moralmente aceitável que se reduza à miséria os povos que contribuíram para o seu enriquecimento?
Quanto às dívidas internas, no caso concreto as PPPs e as empresas públicas que serviram para retirar dos orçamentos do Estado e das autarquias os encargos obrigatórios, dando ao mesmo tempo, na maioria das situações cargos bem remunerados a gestores incompetentes fiéis aos partidos no poder, devem as mesmas ser reconfiguradas, retirando às primeiras as cláusulas que garantem rendimentos superiores ao juros do BEI e acabando com quase todas as outras, que deverão voltar ao domínio governamental ou autárquico. De outra forma não vamos lá.
(in Público”, 25.08.2011)
                                                                                         
                                                                 Joaquim Carreira Tapadinhas 

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