O senhor ministro das Finanças
numa pose robotizada, como um autómato, veio dizer ao país que o Governo,
porque respeita a palavra dos seus antecessores, decidiu impor mais sacrifícios
ao povo, cumprindo as imposições da “troika”. Assim como uma espécie de sanções,
como as que a ONU, a NATO e outras super estruturas internacionais, resolvem
castigar os governados nos países onde os governantes se portam mal.
O Prof. Doutor Victor Louçã
Gaspar, aureolado de génio no tratamento abstracto dos números, condição que
não é de menosprezar e da qual devemos felicitá-lo, ficou-se pelo campo que
domina de forma excelente, e não desviou a sua atenção para a realidade que são
as pessoas. Todos sabemos que este senhor e os seus colegas de Governo não
criaram o lodaçal, que é a situação económica e financeira que atravessamos,
mas, com um pouco de reflexão, analisando as condições de sacrifícios a que a
maioria do povo está e vai continuar a estar submetida, salta à vista, que
mesmo que, para pagar a nação se torne famélica, depois já não tem força para
se reerguer. É o destroçar de um país, de uma civilização, de um POVO.
Têm de ser tomadas medidas
urgentes que ultrapassem esta paz podre que domina a vida portuguesa. Que
interessa que quando estivermos de tanga, se não morrermos antes disso,
possamos ir ao “mercado” contrair mais dívidas a juros ruinosos e ultrajantes.
Disse o senhor primeiro-ministro que se formos “bonzinhos”, dentro de dois
anos, os “mercados” confiarão em nós e vamos poder neles entrar. Um país em
recessão, endividado até mais não, não tem possibilidade de pagar juros e de
cumprir prazos tão curtos. A nossa dívida externa, como as de outros países em
situações semelhantes, tem de ser escalonada no mínimo em meio século, redimensionada
no sentido descendente, quer em juros quer no seu quantitativo, para poder ser
um factor real da economia europeia. De contrário, serão números apenas a
considerar nas estatísticas. Quem são os credores destes povos? É moralmente
aceitável que se reduza à miséria os povos que contribuíram para o seu
enriquecimento?
Quanto às dívidas internas, no
caso concreto as PPPs e as empresas públicas que serviram para retirar dos
orçamentos do Estado e das autarquias os encargos obrigatórios, dando ao mesmo
tempo, na maioria das situações cargos bem remunerados a gestores incompetentes
fiéis aos partidos no poder, devem as mesmas ser reconfiguradas, retirando às
primeiras as cláusulas que garantem rendimentos superiores ao juros do BEI e
acabando com quase todas as outras, que deverão voltar ao domínio governamental
ou autárquico. De outra forma não vamos lá.
(in Público”, 25.08.2011)
Joaquim Carreira Tapadinhas
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