Após
ler a imprensa diária, fico a saber que, para além de uma crise económica e
social, caminhamos a passos largos, para uma crise política. Os nossos
fazedores de opinião são lestos e rigorosos a fazer o diagnóstico da nossa
doença. Contudo, ninguém parece suficientemente hábil para encontrar a
panaceia dos nossos males. Após dois anos de sacrifícios inglórios, deixando o
país sem rei nem roque, descobrimos que o “desenho” do memorando, assinado com
pompa e circunstância, estava mal elaborado. Douglas Wheeler escreveu em tempos
que os portugueses têm uma idiossincrasia específica, dizendo que somos “um
povo de paradoxos” com “uma tendência para o auto-apagamento que combina de
forma encantadora com o auto-engrandecimento.” Este auto-engrandecimento foi
notório, enquanto a “torneira” dos fundos comunitários esteve aberta. Reflexo
disso foi a obra feita pelos nossos governantes, evidenciando um novo-riquismo
exibicionista. Fazendo jus àquela frase certeira que diz que somos “um povo de
pobres com mentalidade de ricos.” Agora que a “fonte” secou, acordamos para a
realidade, convertendo-se o sonho europeu em pesadelo. Acresce o facto de que, sem fundos europeus, ficamos manietados, dentro de um colete-de-forças. Como
não existe um projecto, nem uma ideia para este singular país, como é nosso
apanágio, resta ter esperança em soluções milagrosas. O mito do sebastianismo ganha,
assim, novo fulgor. Em
pleno século XXI, continuamos tristemente na cauda da Europa. Algo a que já
devíamos estar habituados. Todavia, não foi por falta de aviso! Há mais de cem
anos, muitos foram os autores, que tentaram fugir à inevitabilidade do nosso
destino. Um desses foi Ramalho Ortigão, que nas Farpas, dizia assim: “Para que haja uma Pátria portuguesa é preciso
que exista uma ideia portuguesa (…) Sabem dizer-nos se viram para aí esta
ideia?”
(PÚBLICO, 5-4-2013)
Nuno
Abreu
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