quarta-feira, 2 de abril de 2014

in Público, 18/02/2012

A natalidade e os robôs
Durante séculos e séculos, a Humanidade precisava de braços para trabalhar a terra que a sustentava. Hoje, o que precisa é só de algumas cabeças e muitas máquinas e robôs, não de braços! Hoje, os modernos meios tecnológicos permitem que apenas milhares façam o que milhões "precisam". A ânsia de se ter acesso aos bens materiais à disposição leva ao aumento da actividade laboral para os conseguir, o que implica maior exigência de conhecimentos tecnológicos e disponibilidade de mobilidade. Aqui, a antiga estabilidade na fixação dos povos às terras foi alterada, passando da transumância pastoril para a transumância técnica! Já não faz sentido ter residência fixa, mas sim uma tenda social e percorrer os parques de campismo sociais perto do trabalho. Hoje, a garantia de trabalho não existe, e se antigamente os contratos eram feitos para um longo horizonte temporal, agora trabalha-se quase ao mês e não tarda que só à hora. (...) Se antes a terra exigia braços para a trabalhar, hoje há o paradoxo de quererem que haja barrigas para consumir mas não para produzir futuros consumidores! Com a aquisição de mais conhecimentos e maior consciência social, é natural que os casais pensem bem antes de deitarem um filho ao mundo para ser triturado pela máquina da competitividade. O Estado está a perder o seu papel de pai protector para com suas filhas, não as protegendo no seu papel de maternidade. (...) É pura utopia esperar que os casais tenham a responsabilidade de ter filhos quando o Estado cada vez mais tem menos políticas sociais de apoio às famílias e ao incentivo da procriação, a bem da nação, a não ser que o futuro da Humanidade seja só de robôs e que não sejam necessários filhos, pais e avós!
Silvino Figueiredo, GondomarAs cartas destinadas a esta secção devem indicar o nome e a morada do autor, bem como um número telefónico de contacto. O PÚBLICO reserva-se o direito de seleccionar e event

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