Não fosse a teimosia de alguns jornalistas, a morte do colega Mário Lindolfo teria passado sem um parágrafo ou sequer frase austera.
Por duas vezes tive prazer e fui pago por isso: quando apresentei programas na RTP (o melhor que sei fazer em televisão) e quando produzi os programas do Mário ( o topo do humor e da observação crítica da sociedade portuguesa).
ML tinha por ferramentas a inteligência, a cultura, a dignidade, a tertulia, a delicadeza, o encanto, a seriedade, a rebeldia e a liberdade.
No punhado de anos em foi livre de criar, nasceram algumas pérolas entre as quais o documentário intemporal " Á procura do socialismo" recentemente reexibido pela RTP2.
Um dia quis que eu voltasse a apresentar programas. Escreveu um talk Show.
Estivemos à beira de gravá-lo na Duvideo. Circunstâncias várias abortaram o projeto que revolucionaria o género em Portugal e seria um êxito, garantira a cartomante da época Zaira. No entanto Lindolfo foi a luz de tantos atores, apresentadores, escritores, séries, partidos e associações. Iluminou vaidoso e discreto.
Com a sociedade portuguesa atolada no lamaçal, o Mário tornou-se persona non grata e obviamente desaproveitado. Retirou-se com mágoa, sem rancor. Levou para a aldeia o laboratório de ideia que fervilharam para um leque de oportunidades mais reduzido. Príncipe no humor e por isso mesmo exilado na república das bananas.
A doença súbita e implacável ausentou-o definitivamente deste mundo medíocre onde de facto não há lugar para ele. Com a sua partida isto aqui ficou irremediavelmente sem graça.
A esperança de que nos havíamos de encontrar dá lugar a outra: a de que os voltaremos a ver num qualquer lugar, sob a forma quefôr- está lançado o tema para a discussão à volta do cozido da dona Natália.
PS: segundo a lenda, os que te esqueceram, um dia irão saudar-te!
Aristides Teixeira
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