sete de agosto de mil novecentos e oitenta e cinco
É uma data como outra
qualquer,
ou não é uma data
como outra qualquer?
Parece-me um dia como
outro dia normal;
não me parece contido
em efemérides, parece-me.
Só que hoje me deu na
gana de escrever algo,
ou fiz por ter
pensado em caça? Mas que caça?
Eu até nem tenho
galgo.
Não tenho cão de
qualquer espécie:
nem de raça, nem
rafeiro.
Tem piada: rafeiro
rima com tinteiro,
mas não gosto desta
união;
gostaria que rimasse
com canteiro,
pois dá-me mais
alegria:
tem mais cores que as
de um tinteiro.
Tinteiro rima melhor
com ponteiro,
de relógio e não só.
Eu não queria ser o
ponteiro, instrumento de alguém,
prefiro ser o
canteiro,
dar flores – ver tudo
bem.
Bem, vou depôr esta
pena
no lugar de onde a
tirei,
pois já perdi esta
veia
que eu tinha na
ideia,
que com tinta sem
tinteiro,
descobri estas
palavras,
em data sem grande
marca,
mas que marcou muita
gente
por este mundo além,
pois ontem foi
efeméride
de tragédia sem
medida,
ontem foi aniversário
de recente holocausto,
de que ainda restam
marcas
das vítimas de
Nagasáqui,
gémeas das de
Hiroxima.
José Amaral
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