domingo, 25 de janeiro de 2015

em O LIVRO EM BRANCO - página 58

sete de agosto de mil novecentos e oitenta e cinco

É uma data como outra qualquer,
ou não é uma data como outra qualquer?
Parece-me um dia como outro dia normal;
não me parece contido em efemérides, parece-me.
Só que hoje me deu na gana de escrever algo,
ou fiz por ter pensado em caça? Mas que caça?
Eu até nem tenho galgo.
Não tenho cão de qualquer espécie:
nem de raça, nem rafeiro.

Tem piada: rafeiro rima com tinteiro,
mas não gosto desta união;
gostaria que rimasse com canteiro,
pois dá-me mais alegria:
tem mais cores que as de um tinteiro.

Tinteiro rima melhor com ponteiro,
de relógio e não só.
Eu não queria ser o ponteiro, instrumento de alguém,
prefiro ser o canteiro,
dar flores – ver tudo bem.

Bem, vou depôr esta pena
no lugar de onde a tirei,
pois já perdi esta veia
que eu tinha na ideia,
que com tinta sem tinteiro,
descobri estas palavras,
em data sem grande marca,
mas que marcou muita gente
por este mundo além,
pois ontem foi efeméride
de tragédia sem medida,
ontem foi aniversário de recente holocausto,
de que ainda restam marcas
das vítimas de Nagasáqui,
gémeas das de Hiroxima.


José Amaral

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