Epigrama sobre os
moribundos-vivos
e da solidariedade
de alguns vivos
Ultimamente não tenho
feito nada (poeticamente).
O meu pensamento tem
estado em férias.
Estamos no Verão. É o
inferno p’ra muita gente.
De anteontem para
ontem (de 13 para 14/7/1985),
dois grandes
festivais, de música moderna, atordoaram
(intencionalmente) os
ares, as discotecas,
as rádios, as
radiotelevisões,
e quase toda a gente.
Foi uma linda
campanha a favor de milhões
de moribundos-vivos,
que têm
a fome, a sede, a
miséria,
como principais
letras musicais.
Foi lindo este gesto
de solidariedade,
mas muito feio é a
antítese-gesto do mercenário-diário
a encaixotar, no
mesmo espaço-tempo,
armas e munições,
para matar aqueles
que restam
no mundo dos
moribundos-vivos.
.
O ano tem,
geralmente, trezentos e sessenta
e cinco dias, e, este
gesto, de gesta gente,
teve a estrondosa
dimensão
de um dia.
A fome não se mata em
apenas um dia
e, nos restantes
trezentos e sessenta e quatro dias,
pomposamente,
sofisticadamente,
são mortas de fome
pessoas,
seres-farrapos,
cobaias sem
laboratório. Nem laboratório têm.
Este dia, lindo de solidariedade,
deveria
prolongar-se ‘per
omnia saecula saeculorum’
e não apenas em um
paupérrimo
micro-espaço-tempo.
É a minha opinião,
meu irmão.
(poema a
propósito de dois festivais de música moderna, que tiveram lugar em Filadelfia,
no Estádio John Kennedy, e em Londres, no Estádio de Wimbledon, de 13 para 14
de Julho de 1985, a favor das vítimas da fome e dos homens, no continente
africano e não só)
José Amaral
Sem comentários:
Enviar um comentário
Caro(a) leitor(a), o seu comentário é sempre muito bem-vindo, desde que o faça sem recorrer a insultos e/ou a ameaças. Não diga aos outros o que não gostaria que lhe dissessem. Faça comentários construtivos e merecedores de publicação. E não se esconda atrás do anonimato. Obrigado.
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.