Em 27 de
janeiro de 1945, unidades do exército soviético sob o comando do general russo
Petrenko tomavam o campo de extermínio de Auschwitz, no sul da Polônia,
libertando cerca de 7 mil prisioneiros que aguardavam a morte nas câmaras de
gás.
Era o fim do
maior inferno criado pelos nazistas, onde foram mortos, além de milhares de
homossexuais e comunistas, cerca de 3 milhões de judeus, no desenrolar da
segunda guerra mundial. Ali, as torturas físicas e morais praticadas por
agentes da SS de Himler, chefe da polícia política do Reich (Gestapo), a
serviço do fanatismo hitlerista, atingiram o mais elevado grau de sadismo e
desrespeito na prática de crimes contra a humanidade.
Milhares de
criaturas e que chegavam em comboios ferroviários liam lá fora dizeres
proclamando a dignidade do trabalho que liberta (ARBEIT MACHT FREI) – uma
hipócrita ironia –, pois na realidade, o que deveria estar escrito na entrada,
seria o aviso de Dante Alighieri, no pórtico do inferno mencionado da clássica
obra pré-renascentista Divina Comédia: “Deixai aqui fora de toda a esperança
vós que entrais” (LACIATI OGNI SPERANZA VOI QUE ENTRATI).
No começo,
muitos prisioneiros pensavam que apenas ficariam detidos para prestação de
serviços forçados e sujeitos à alimentação precária. No entanto, a chamada
“grande solução” decretada pelo Fuhrer não tardaria a entrar em vigor. Nas
imensas fileiras de desembarque já eram separadas as primeiras vítimas entre as
mais esquálidas, as mais debilitadas, e porque não dizer, as que se
apresentavam mais feias.
As outras que
ainda sobreviveriam no campo, às vezes perguntavam a companheiros de infortúnio
por certos acompanhantes de viagem e logo ouviam a resposta: olhem a fumaça das
chaminés dos fornos crematórios, pode ser do corpo das pessoas procuradas.
Naquele campo
o nível de autoestima baixou ao mais ínfimo patamar. A chance de sobrevivência
era mínima. A maioria desejava o suicídio que poderia acontecer facilmente com
um simples avanço sobre as cercas elétricas que circundavam todas as
localidades. Ai de quem fosse flagrado tentando impedir um suicídio!
Os
prisioneiros eram espancados sob pretextos absurdos. Bastava um passo errado,
uma simples mancada ou um pequeno desalinhamento nas colunas de pelotão em
longa marcha para o intenso trabalho de implantação de linhas ferroviárias. Os
que estavam no interior às vezes se revezavam com os que marchavam nas linhas
exteriores, porque estes eram mais vistos e a todo momento maltratados.
Entre os
detentos estava o ilustre médico psicoterapeuta Victor Frankl, cujo livro “Um
Psicólogo no Campo de Concentração” relata as atrocidades acontecidas em
Auschwitz. Preso em sua cínica em Viena, por ser remoto descendente de judeu,
nem sequer teve permissão de ir à sua residência para buscar objetos pessoais.
No campo, com o máximo cuidado, aconselhava os companheiros a manter a boa
aparência, com ar de simpatia e jamais pensar em suicídio, porque alguma coisa
ainda esperava por eles lá fora, caso sobrevivessem. Alguns diziam: Tudo está
perdido, nossas famílias destruídas, nossos sonhos desmoronados, o que nos
espera? Ele respondia: Nem que seja um livro a ser escrito sobre nossas vidas.
Quantos ele
livrou do suicídio, ao recomendar que deixassem isso para depois, e, assim,
muitos foram relegando para outro dia a realização do ato extremo, que acabava
não acontecendo, e muitos deles, inclusive o ilustre médico, foram transferidos,
até mesmo antes da libertação soviética, para o campo de Dachau, onde havia
apenas concentração de presos, sem câmaras de gás.
Finda a
guerra, em maio de 1945, Victor Frankl voltou às atividades profissionais,
dirigindo a Policlínica Neurológica da Universidade de Viena e criou, em
universidades de vários países, inclusive em San Diego, na Califórnia, a
cátedra de logoterapia, ou seja, a cura radical das anomalias psíquicas por
força da razão espiritual, que supera não só o unilateralismo de Sigmund Freud,
que analisava tudo sob o prisma do subconsciente, mas também a força do supraconsciente
admitida por Addler e Jung.
Para Victor
Frankl, o logos inerente à criatura humana, ou seja, a sua própria razão
espiritual, é capaz de vencer todas as mazelas. Huberto Rohden, o grande filósofo
e pensador espiritualista brasileiro, de que tive a honra de ser aluno,
considerava o ínclito ex-prisioneiro de Auschwitz como a mais eloquente
manifestação da psicanálise de todos os tempos, tendo-o como o criador da
terceira escola psicanalítica de Viena.
Que os
benfeitores da humanidade Victor Frankl e outros mais, como o industrial Schindler(conhecido pela famosa lista que leva
o seu nome),o diplomata português Aristides
de Souza Mendes, salvadores de milhares de judeus, sejam exemplos aos atuais
dirigentes da nação judaica, para o abrandamento de suas represálias contra os
povos vizinhos, sobretudo os palestinos que merecem ter sua pátria; senão, em
tempos futuros, haverão de sofrer as consequências da lei de causa e efeito que
rege o mundo físico e matafísico, como expressão da própria Justiça Divina:
“Quem com ferro fere, com ferro será ferido”. As represálias de Israel contra
agressões sofridas têm sido desproporcionais; superam, em muito, a lei antiga
de Moisés, a do “olho por olho e dente por dente”.
PUBLICADO
NO JORNAL BRASILEIRO DIÁRIO DA MANHÃ NO DIA 27/01/2015 – SITE DO JORNAL: http://www.dmdigital.com.br/
Só de ver tais imagens fico gelado de medo e de pavor sem fim.
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