sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

NINGUÉM NASCE BANDIDO

                                                  SEMENTES DE VIOLÊNCIA
À situação vivida nas escolas, nos vários graus do ensino, não é alheia a forma como os professores têm sido desconsiderados. De facto, passou-se de um tempo em que até podiam bater nas crianças, a outro em que são eles batidos por pais e alunos, coisa realmente intolerável, qualquer que seja o ângulo de análise.
Sabendo-se de que estrato provém grande parte dos alunos problemáticos, deve ser por aí que se terá de enfrentar o problema, e não como li num “desabafo” aqui publicado:“os pais que os aturem, ou arrangem para eles escolas especiais”…
É que já há muito existem essas escolas, mas não têm surtido o efeito para que foram criadas, sendo poucos os que de lá saem bem encaminhados, tal como acabaram na prostituição muitas  moças “educadas” por freiras.
Foi publicado em Portugal em 1971,“Europa-América”, um livro com o título em epígrafe, do escritor americano Evan Hunter, que escalpeliza a vivência de uma escola do ensino técnico-profissional de Nova Iorque, em que sobressaem diálogos “esclarecedores” entre professores interessados em fazer daqueles jóvens cidadãos úteis à sociedade e a si próprios, e os que apenas esperam o dia de receber o ordenado…
Permito-me transcrever três parágrafos: “Enquanto subia as escadas Richard congratulou-se pelo seu comportamento. Tinha-se mostrado exteriormente rude, porque apesar de os professores severos nem sempre serem estimados, são respeitados. Não estava interessado em que gostassem dele; queria cumprir a sua obrigação, e esta era ensinar. É como dar uma injecção de penicilina a uma criança, que chora e protesta, porque não sabe que aquilo lhe faz bem, mas o que é preciso fazer é ignorar a berraria e espetar a agulha”.
“Isto aqui é a retrete central do sistema de ensino - diz um colega de Richard. São-no todas as escolas técnicas desta cidade. Junte-as e terá uma grande rede de esgotos. E o nosso trabalho é sentarmo-nos em cima da tampa da retrete a impedir que nenhuma porcaria transborde.
Tudo que não presta, toda a escumalha que não podem meter numa escola secundária geral, todo este estrume vem parar aqui; foi para termos jóvens a saber trabalhar com as mãos que foi inventado o ensino técnico secundário, mas como só há uma coisa que muitos destes sabem fazer com as mãos, algum espírito brilhante arranjou maneira de os desviar para cá, pensando com isso proteger a mulher e as filhas”!...
                                                        ///…///
Termino questionando quantos verdadeiros génios não serão assim atirados para as valetas da vida, por falta de abordagem correcta das suas situações…

                                          Amândio G. Martins


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