SEMENTES DE VIOLÊNCIA
À situação
vivida nas escolas, nos vários graus do ensino, não é alheia a forma como os
professores têm sido desconsiderados. De facto, passou-se de um tempo em que
até podiam bater nas crianças, a outro em que são eles batidos por pais e
alunos, coisa realmente intolerável, qualquer que seja o ângulo de análise.
Sabendo-se de
que estrato provém grande parte dos alunos problemáticos, deve ser por aí que
se terá de enfrentar o problema, e não como li num “desabafo” aqui
publicado:“os pais que os aturem, ou arrangem para eles escolas especiais”…
É que já há
muito existem essas escolas, mas não têm surtido o efeito para que foram
criadas, sendo poucos os que de lá saem bem encaminhados, tal como acabaram na
prostituição muitas moças “educadas” por
freiras.
Foi publicado
em Portugal em 1971,“Europa-América”, um livro com o título em epígrafe, do
escritor americano Evan Hunter, que escalpeliza a vivência de uma escola do
ensino técnico-profissional de Nova Iorque, em que sobressaem diálogos
“esclarecedores” entre professores interessados em fazer daqueles jóvens cidadãos
úteis à sociedade e a si próprios, e os que apenas esperam o dia de receber o
ordenado…
Permito-me transcrever
três parágrafos: “Enquanto subia as escadas Richard congratulou-se pelo seu
comportamento. Tinha-se mostrado exteriormente rude, porque apesar de os
professores severos nem sempre serem estimados, são respeitados. Não estava
interessado em que gostassem dele; queria cumprir a sua obrigação, e esta era
ensinar. É como dar uma injecção de penicilina a uma criança, que chora e
protesta, porque não sabe que aquilo lhe faz bem, mas o que é preciso fazer é
ignorar a berraria e espetar a agulha”.
“Isto aqui é
a retrete central do sistema de ensino - diz um colega de Richard. São-no todas
as escolas técnicas desta cidade. Junte-as e terá uma grande rede de esgotos. E
o nosso trabalho é sentarmo-nos em cima da tampa da retrete a impedir que
nenhuma porcaria transborde.
Tudo que não
presta, toda a escumalha que não podem meter numa escola secundária geral, todo
este estrume vem parar aqui; foi para termos jóvens a saber trabalhar com as
mãos que foi inventado o ensino técnico secundário, mas como só há uma coisa
que muitos destes sabem fazer com as mãos, algum espírito brilhante arranjou
maneira de os desviar para cá, pensando com isso proteger a mulher e as
filhas”!...
///…///
Termino
questionando quantos verdadeiros génios não serão assim atirados para as
valetas da vida, por falta de abordagem correcta das suas situações…
Amândio G. Martins
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