quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

TREVAS



Cai sobre a terra uma névoa fuliginosa e suja. Fustiga tudo: a Europa das utopias de liberdade; a outra Europa dos muros que desabaram podres e agora a cimentar tijolos ; as Américas – ambas - a dos pobres e a dos ricos; em todos os locais nasce uma noite insidiosa, peganhenta, com sinais  que vem para se demorar.

É a noite da intolerância, de medos reais, dos inventados como novos medos, dos proteccionismos falsos, da opressão pérfida, mascarada de amiguinha.

Ouvem-se de novo as botas pretas em sons ritmados que calcam o solo, que espezinham a vida, que assustam ainda mais.

São indícios dos tempos de fechar entre portas o pensamento livre, emudecer a palavra, de assistirmos impotentes - mas fomos facilitadores - ao instalar dessa noite horrenda, de maus presságios, que faz lembrar longas noites em branco já vividas, em que os homens não acreditando ser possível acontecer uma catástrofe do juízo humano - porque presumiam ter atingido progressos sublimes - deixaram que o caos se acomodasse nas suas vidas,ao ponto de ceifar tantas.

Fomos adormecidos pelos burocratas que nos ofereceram luxos em troca da aceitação. Estamos quase a ser controlados pelos populistas, os demagogos bem dizentes e louros (ou de outra tez) de cara carregada e intenções ainda piores, anunciando a catástrofe do mundo, com receitas milagrosas para o curar.

Cura através da força, da imposição da sua verdade – tão ridícula e perigosa que salta à vista, mas ninguém vê, ou quer -, prometendo segurança, quando nos querem encarcerar em fortalezas, controlando os nossos movimentos, espiando as nossas cabeças, oferecendo para sua glória a miséria da aceitação forçada de ideais com bolor e mofos.

A noite põe-se gélida, feiíssíma, perigosíssima.

Mas temos sempre a opção de despertar e a rejeitar.  

1 comentário:

  1. O Público, valorizando os artigos que têm profundidade, sem deixar de estar atento aos casos do dia-a-dia, que também não são de desprezar, publicou hoje dia 13, esta reflexão sobre a realidade da sociedade portuguesa actual. Parabéns ao Luís e a quem dirige o jornal.

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