“Que Estado é este!”, gritava um turco desesperado, ouvindo as pessoas gritar, presas debaixo dos escombros, sem que houvesse o socorro que, para ele, deveria estar ali prontinho a servir, com tudo que fosse necessário para salvar aqueles infelizes; desgraçadamente, em catástrofes daquela magnitude, não há socorro que chegue a todos em tempo útil, ali como em qualquer outra parte do globo, porque uma tragédia daquelas é instantânea, mas não há socorristas instantâneos, porque mesmo que não faltem as boas-vontades, tudo leva o seu tempo a chegar aonde é preciso.
Mas quando se vêem milhares de edifícios habitacionais transformados num montão de entulho, o que desde logo fica claro é que estavam longe de ter sido construídos para resistir a uma convulsão daquelas; de facto, se tivessem observado as regras anti-sísmicas que se impunham para um local tão sensível, poderiam até tombar, mas o bloco manter-se-ia solidário, protegendo de serem esmagadas muitas das vidas que no momento ocupavam os espaços interiores.
A propósito da deficiente construção, lembro-me de, há uns bons anos, precisamente da Turquia, chegarem notícias de desmoronamentos de prédios de construção recente, ou ainda por acabar, sem que nenhuma acção externa tivesse concorrido para tal; e lembro-me também de ter lido, acerca desse assunto, um artigo de um especialista da engenharia civil explicando as razões daquilo acontecer: Dizia esse engenheiro que aqueles “construtores” tinham sido imigrantes na Alemanha, onde trabalharam na área da construção, amealhando muitos “marcos”; quando se achavam com o suficiente, voltavam ao seu país, onde prosseguiam a actividade, mas agora como empresários por conta própria; o problema foi que, na mira do lucro fácil, como qualquer turco que se preze, “poupavam” no ferro e no cimento, daí que o que construíam não oferecesse segurança nenhuma...
Amândio G. Martins
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