quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

Maldita gripe

 

Já levo duas semanas duma gripe impiedosa, com o corpo como se tivesse sido moído de pancada e a comida a parecer palha na boca, sem sabor nenhum e renitente em passar para baixo; e quando, a pretexto de mais uma vacina, questiono se valerá a pena, dado que raramente escapo sem ser atingido, sempre me respondem que, sem ela, a gripe seria muito mais agressiva, e o que me acontece deve-se à mutação dos vírus, que sempre engendram nova maneira de nos atingir a carcaça.

 

Pode ser isso, mas chego a pensar que, de tanto nos inocularem com todo o tipo de drogas, já não há vírus que se assuste, e o que sempre acaba por nos aliviar é o recurso aos bons e velhos métodos caseiros -  dos tempos em que nem para os casos de doença que se temia grave se recorria às medicinas, por falta de recursos, sendo que o que tinham sempre disponível era o padre, na esperança de salvarem ao menos a alma -  de que ainda me lembro duma velha fórmula ouvida desde miúdo: “Avinha-te, abifa-te e abafa-te”. Mas como não sou de ficar enfiado em casa, e muito menos na cama, vou logo prevenindo os circunstantes que não se cheguem para mim, que estou contaminado dos pés à ponta dos cabelos, se é que ainda tenho cabelos...

 

Amândio G. Martins

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