Cada dia que passa, tenho mais
dificuldade em perceber as regras de convivência e o respeito que deve existir,
quer entre as pessoas, quer entre as diversas instâncias orgânicas que são suporte
da nação, órgãos que naturalmente são representados por pessoas. A Assembleia
da República não faz leis claras sobre a administração do país, quer sobre o
relacionamento entre as partes que integram a produção de riqueza, quer nos
direitos e deveres dos cidadãos, quer na administração da justiça, quer no
funcionamento das instituições. Tudo são remendos sobre leis confusas, quase
sempre encomendadas a consórcios de advogados e juristas, pagas a preço de
ouro, que deixam sempre uma fuga para quem tem possibilidade de contestar as
sentenças das primeiras instâncias. Quanto à realidade concreta da lei que
regulamenta os rendimentos do trabalho, sejam eles de actores no activo ou na
reforma, conseguiu que haja um salário mínimo legal, mas não tem um tecto para
um salário máximo, havendo o escândalo de alguns portugueses, seja na área do
governo ou em empresas tuteladas, ou ainda nas instituições privadas,
beneficiarem de rendimentos mensais correspondentes a dezenas de salários. Se
estes deputados representam, de facto, o povo, então o povo está muito mal
representado.
Como pode um Governo elaborar uma
lei, seja orçamental, seja outra, e pedir ao PR que, sobre ela, peça uma
fiscalização sucessiva ao TC? Isto é uma falta de respeito que condiciona o PR
e, o triste, é que nenhum comentador político tem a coragem de se insurgir
contra o facto.
Como pode um governante dormir
descansado, se quase um milhão de cidadãos estão desempregados e, se algumas
centenas de milhar já perderam o subsídio de desemprego? Apesar do reclame
governamental de que se vão criando alguns postos de trabalho, nós vamos
constatando que diversas empresas vão fechando linhas de produção ou agências
de serviços, como sucede com bancos e seguros. Se há milhares de reformados que
auferem menos de 300 € mensais, e as rendas das habitações, alguns produtos
alimentícios, o gaz, a água têm subido de custo ainda que paulatinamente, e que
ainda têm de ajudar familiares sem rendimento, como é possível suportar a
situação por mais tempo? E isto sem que se notem quaisquer medidas para atenuar
a desgraça. Experimentassem essas pessoas viver, nem que fosse só um mês, nesse
esquema de vegetação, decerto encontrariam outro caminho para melhorar o estado
de sítio. Nós sabemos que não é fácil remediar tal tragédia, mas quanto mais
tarde se enveredar pelo caminho do tratamento correcto, mais difícil é de curar
o corpo ferido, que pode gangrenar.
As dificuldades nas instituições
do sistema bancário, sendo a última do ultrapoderoso BES, tudo está a
contribuir para o desastre económico e financeiro que se implantou neste país e
agravará a situação da dívida pública, seja a soberana, seja a das empresas
públicas, pois a promiscuidade entre governo e bancos, sobretudo pela
necessidade de que estes adquirissem um grande parte da dívida oficial, criou
uma interdependência. No final, no saldo, no acerto de contas, quem virá a
sofrer as consequências, são os mais débeis economicamente, os pobres e a
classe média, tal como nos edifícios são os pilares de baixo que suportam todo
o edifício.
Joaquim Carreira Tapadinhas, Montijo
Meu Caro Confrade e demais amigos desta VOZ DA GIRAFA. Ainda agora o 'cherne português' disse que Portugal irá receber uma 'pipa de massa' na ordem de 26 000 milhões de euros. Entregue-se parte de tal quantia ao 'nosso querido Ricardo Salgado', para tudo ficar em família, por obra e graça do 'divino espírito santo'.
ResponderEliminarO jornal Público, nas cartas à directora, publicou hoje (3 AGO 2014) este artigo com um pequeno corte, naturalmente dada a sua extensão e o espaço disponível.
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