Tenho andado a resistir, com todas a forças, a comentar o triste espetáculo mediático que se tem montado em torno da trágica morte de André Sousa Bessa.
Conhecem o André?
Sabiam quem era, ou passaram a conhecê-lo, porque infelizmente, passou de cidadão anónimo a celebridade depois de morto e apenas, só apenas, por ser filho de Judite de Sousa?
Não consigo sequer imaginar a dimensão da dor daquela mãe, ou a de qualquer mãe cujo destino tenha marcado a vida com o ferro em brasa contranatura de perder um filho. Não sei avaliar nem a densidade nem a profundidade de uma dor destas – direi mesmo que o mero exercício de tentar intuir essa dor é um exercício profundamente doloroso que evito fazer, mas fico estupefacta com o mediatismo bacoco e absurdo que tem rodeado este caso.
Nesta última semana quase parece que nós, cidadãos anónimos, temos que ficar íntimos deste rapaz de 29 anos que faleceu de forma estúpida e trágica, como é quase sempre a morte de um jovem na flor da vida.
Mais surreal e absurdo tudo isto se torna, quando, segundo consta, este André, sempre viveu de forma sóbria de discreta, gostava de estar no seu canto com os seus amigos e agora, depois de morto e porque era o único filho de uma figura pública ( seja lá isso o que for ), salta para a capa de tudo quanto é jornal e revista.
Triste sina a deste André – não lhe bastou ter a vida ceifada aos 29 anos e ainda tem que aturar gente sem pudor, sensatez, lucidez e bom senso a colocá-lo na capa de tudo quanto é jornal e revista, algo que certamente não faria a menor questão.
Desculpem-me se vou chocar algumas mentes mais sensíveis, mas todos os dias morrem “Andrés”, igualmente filhos únicos, igualmente rapazes de exceção; igualmente com futuros brilhantes, igualmente insubstituíveis para as suas mães / famílias / amigos e nenhum de nós se apercebe disso.
Provavelmente estes outros “ Andrés” agradecem e as suas famílias também, que lhes deixem fazer o luto e gerir a dor no silêncio e na discrição que perdas destas merecem / aconselham e que o bom senso obriga.
Quero acreditar que a mãe deste André Sousa Bessa também preferiria que a deixassem em paz, mas não sei e portanto não vou nem especular nem fazer juízos de valor.
Direi também que, o que me move a escrever estas palavras não é a mãe, que respeito mas não conheço… é o filho, por quem a comunicação social devia ter consideração, recato e o tal pudor de deixar em paz.
Infelizmente todos os dias somos confrontados por comunicação social que se alimenta de sangue, dor e sofrimento alheio…
Infelizmente , (e isso é que verdadeiramente me choca ) isso vende. Quem não tem vida própria, vive a dos outros.
A este André, tiraram-lhe a identidade depois da morto…deixou de ser uma pessoa e passou a ser “o filho de”.
A mãe continua a fazer capa de pasquins. Ele, nem pode descansar em paz, nem se pode defender.
Se existir vida para além da morte, o que estará este André, que passou apenas a ser “filho de” depois de morto, a pensar nesta altura?
NOTA: Li hoje um magnifico artigo de opinião intitulado “ Pudor, isso , pudor”, de um cronista por quem nem tenho grande identificação intelectual, mas a quem hoje tiro o chapéu e faço a devida e merecida vénia, pelo bom senso e lucidez com que aborda este delicado episódio. Para quem quiser ler , está no DN de hoje e o cronista é Ferreira Fernandes
Sem comentários:
Enviar um comentário
Caro(a) leitor(a), o seu comentário é sempre muito bem-vindo, desde que o faça sem recorrer a insultos e/ou a ameaças. Não diga aos outros o que não gostaria que lhe dissessem. Faça comentários construtivos e merecedores de publicação. E não se esconda atrás do anonimato. Obrigado.
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.