segunda-feira, 21 de julho de 2014

É preciso «reparar»

Foi um prazer ler o Público e a revista deste domingo, 20 de julho. Interessantes assuntos, em artigos bem escritos e cheios de conteúdo. Não foi esforço nenhum ler o artigo de Daniel Sampaio («Ler com esforço»), que comenta sobre os adolescentes, na sua maioria  “sem grande vocabulário” e que se queixam que ler é enfadonho. “É muito provável que a geração actual dos nossos adolescentes deixe para sempre de ler jornais, revistas e livros”. Não é possível citar todo o texto de Daniel Sampaio, tão rico, mas transcrevo a sua pergunta: “O que fazer?” O que podem fazer os pais, os professores e as próprias direcções dos jornais para cativar os adolescentes, jovens e cidadãos em geral para a leitura (de jornais)? Se formos a analisar, por exemplo, a idade dos leitores que regularmente escrevem para este espaço «Cartas à directora», verificamos que a maioria corresponde a cidadãos que já «entraram» em idade da reforma… Seria muito importante que também os mais jovens fossem motivados a participar!
Outro texto curioso desta edição do Público é a crónica de Miguel Esteves Cardoso. Denuncia a “obsolescência premeditada e incluída nos produtos, para durarem menos tempo e terem de ser rapidamente substituídos”, algo que se “aperfeiçoou nos últimos cem anos”. Recordo que o atual presidente do Uruguai referiu o mesmo exemplo dado por MEC sobre a longevidade das lâmpadas no seu discurso por ocasião da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, Rio+20. MEC repete a palavra «Reparar» seis vezes ( “Reparar é respeitar”, etc.).
De acordo com esta posição, está Ricardo Garcia na sua crónica «Quanto valem dez cêntimos»: o ciclo de vida de um saco plástico pode, se quisermos ( e é tão fácil), ser mais longo que o ciclo de vida de um espermatozóide perdido. É cada vez maior o número de pessoas que vão às compras com saco(s) na mão. Pena que para isso tenha sido necessário começar a cobrar uns cêntimos pelos sacos de plástico…
Só à força, por obrigação, é que fazemos a coisa certa?
Não é por decreto-lei que a natalidade poderá aumentar, escreve Pedro Afonso, médico psiquiatra. Nem a baixa taxa de natalidade tem a ver com só com a crise (o rendimento per capita já foi mais baixo noutros tempos e, no entanto…): esta é explicada, segundo o psiquiatra, “acima de tudo, pela mudança das prioridades nas opções de vida das pessoas (…) numa sociedade de consumo, materialista, individualista, avessa ao compromisso, e que o julga incompatível com a liberdade”. «Para quê, casar? Para quê, ter filhos?» estas são as reacções que P.A. vê no seu consultório  de jovens que ficam indignados, perplexos e, perentoriamente, dizem «Não». Concluindo, P.A. prevê uma sociedade de gente envelhecida, medicada com antidepressivos e “dominada por um enorme sentimento de solidão”.

2 comentários:

  1. O facto de o diário Publico, jornal de referência, ser adquirido por muitos poucos leitores, cerca de 10% dos que compram o Correio da Manhã, explica a mentalidade e o grau de cidadania de grande parte do povo português. E mais grave ainda, é que dos 40 anos para baixo, raros são os leitores dos jornais. A maioria dos jovens vive deslocada do centro dos problemas e não se apercebe de toda esta situação destruidora que está em marcha. Eu não quero fazer acusações, mas a escola, desde o infantário até ao liceu, não substituiu os pais e a família, como as instituições governamentais tem querido inculcar na vida moderna. Há muitos erros de base na formação dos jovens actuais. Mas estes não têm culpa da forma como os têm formatado. Há dezenas de anos, grupos de oportunistas, ladrões sem escrúpulos, foram criando uma sociedade sem escrúpulos, sem valores, sem objectivos humanitários, e por isso chegámos onde estamos. Mas o fenómeno estendeu-se à aldeia global e está implantado, com mais ou menos raízes, em grande parte do mundo. Por isso a crise é profunda e difícil de vencer. Contudo, há sempre sonhadores e eu penso, sinceramente, que, conforme o ditado antigo, "depois da tempestade vem a bonança".

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  2. Eu, até faço a seguinte pergunta: quantas famílias em Portugal têm hábitos de leitura e quantas têm livros em casa?
    Ter um móvel-bar; um televisor topo de gama, tipo 3D; um jornal desportivo por perto; umas bejecas pra beber ou até um usquite a condizer, assim é uma família portuguesa, enquanto todos contemplam 'uma casa dos segredos' com camarinhas de agora e meninas todo-o-terreno.

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