domingo, 27 de julho de 2014

Fui de férias e já estou de novo cansado

Tomar tempo para  descanso é fundamental.

As férias são isso: acalma-se a angustia, tranquiliza-se a impotência, amacia-se aquela vontade enorme que temos ainda e sempre de mudar o mundo – o último dos sonhos  da infância .

Sair do seu sítio para arejar as ideias.

A tradição errática dos nómadas e povos errantes, ilustra que as vidas dessas gentes são aparentemente mais felizes. Uma vida em constante movimento não deixa germinar a desconfiança e a inveja, porque se depara ao virar de cada duna, com desafios e deslumbramentos que não  deixam tempo para depressões.

Quem fica, alapado na terra – mais laborioso talvez que esses cata-ventos – aforra pelo trabalho e pelo apego,  enche o celeiro  para as  tempestades de amanhã. Mas reveste-se de camadas de avareza, zeloso e ciumento do seu quinhão, desconfiado da maldade dos outros, afinal, espelhos da sua imagem.

Vamos de férias para ganhar cor e trazer na volta  fabulosos planos de futuro: vamos ser mais humanos, tolerantes, recarregar baterias para enfrentar o mal com uma energia de amor mais purificado, livre dos ódios e maus fígados que fomos lavar nas ondas da praia ou em sestas retemperadoras nos encantamentos bucólicos do campo.

De volta a casa contamos os quilómetros que faltam para vestir a armadura que ficou dependurada no bengaleiro ao lado da porta, pôr os arreios no rocinante e partir para uma nova cruzada, com o peito num galope medonho a meças com o cavalo que nos transporta.

É desta que vamos mudar o mundo!

Quando chegamos, sobreviventes espapaçados  depois de mais de uma hora para passar a ponte, obrigados a retomar os noticiários da rádio para entreter a “bicha”, ficamos com a certeza de que ainda não é desta!

Ficaram-se as intenções pelo caminho.

 Não! Nas férias do próximo ano é que vai ser: daqui a doze meses havemos de ser cavaleiros andantes à altura dos moinhos de vento, até porque tudo estará naturalmente melhor.


De lá de fora não haverá histórias para contar sobre Gaza, as meninas nigerianas raptadas por símios abstrusos  voltaram a brincar com as amigas nos terreiros da sua escola, os políticos europeus deixaram de ser cínicos, na guiné equatorial já há dois locais recenseados que falam português, e o petróleo deles está a ser vendido cá a vinte cêntimos a litrada.

Cá dentro, os banqueiros são boa gente, passos arrependeu-se genuinamente e pediu desculpa a si próprio pelas teimosias  do seu pensamento congelado ,  costa afinal não é tão bom moço como aparentava, seguro continua a ser fraquinho e o presidente, num momento muito raro de lucidez, demitiu-se envergonhadamente, tomando ordens menores no convento dos frades cartuxos, obrigados ao voto do silêncio eterno. 

Com um cenário destes – tanta melhoria que aí vem aos sopetões -  é que vamos   realizar esse sonho de putos charilas.


Mas vai ser só para o ano, que neste, depois da “bicha” de hoje, já ficámos exauridos a necessitar de mais férias.

3 comentários:

  1. Muito bom.
    As férias servem para tudo isso! Costumo fazer planos. Alguma coisa para melhor muda, mas pouco. Somos humanos.

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  2. E quem viver no deserto como se 'purificará'? Será por isso pior que os outros seus semelhantes?

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  3. Este Robalo é muito melhor que o cherne que enviámos para a Comissão Europeia e que por lá permaneceu durante 10 anos. Tem mais conteúdo e é, naturalmente, mais inteligente. Nós sabemos que o cherne que seguiu para a Europa não era de grande qualidade, mas se não servia para Portugal, como era possível organizar a vida de tantos países. Os erros pagam-se caros e quando não temos suporte os juros são devoradores.

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