Tomar tempo para descanso é fundamental.
As férias são isso: acalma-se a angustia, tranquiliza-se a
impotência, amacia-se aquela vontade enorme que temos ainda e sempre de mudar o
mundo – o último dos sonhos da infância
.
Sair do seu sítio para arejar as ideias.
A tradição errática dos nómadas e povos errantes, ilustra que
as vidas dessas gentes são aparentemente mais felizes. Uma vida em constante
movimento não deixa germinar a desconfiança e a inveja, porque se depara ao
virar de cada duna, com desafios e deslumbramentos que não deixam tempo
para depressões.
Quem fica, alapado na terra – mais laborioso talvez que
esses cata-ventos – aforra pelo trabalho e pelo apego, enche o celeiro para as
tempestades de amanhã. Mas reveste-se de camadas de avareza, zeloso e
ciumento do seu quinhão, desconfiado da maldade dos outros, afinal, espelhos da
sua imagem.
Vamos de férias para ganhar cor e trazer na volta
fabulosos planos de futuro: vamos ser mais
humanos, tolerantes, recarregar baterias para enfrentar o mal com uma energia
de amor mais purificado, livre dos ódios e maus fígados que fomos lavar nas
ondas da praia ou em sestas retemperadoras nos encantamentos bucólicos do
campo.
De volta a casa contamos os quilómetros que faltam para
vestir a armadura que ficou dependurada no bengaleiro ao lado da porta, pôr os
arreios no rocinante e partir para uma nova cruzada, com o peito num galope medonho
a meças com o cavalo que nos transporta.
É desta que vamos mudar o mundo!
Quando chegamos, sobreviventes espapaçados depois de mais de uma hora para passar a
ponte, obrigados a retomar os noticiários da rádio para entreter a “bicha”,
ficamos com a certeza de que ainda não é desta!
Ficaram-se as intenções pelo caminho.
Não! Nas férias do
próximo ano é que vai ser: daqui a doze meses havemos de ser cavaleiros
andantes à altura dos moinhos de vento, até porque tudo estará naturalmente
melhor.
De lá de fora não haverá histórias para contar sobre Gaza,
as meninas nigerianas raptadas por símios abstrusos voltaram a brincar com as amigas nos
terreiros da sua escola, os políticos europeus deixaram de ser cínicos, na guiné equatorial já há dois locais recenseados que falam português, e o petróleo deles está a ser vendido cá a vinte cêntimos a litrada.
Cá dentro, os banqueiros são boa gente, passos arrependeu-se
genuinamente e pediu desculpa a si próprio pelas teimosias do seu
pensamento congelado , costa afinal não é tão bom moço
como aparentava, seguro continua a ser fraquinho e o presidente, num momento
muito raro de lucidez, demitiu-se envergonhadamente, tomando ordens menores no
convento dos frades cartuxos, obrigados ao voto do silêncio eterno.
Com um cenário destes – tanta melhoria que aí vem aos
sopetões - é que vamos realizar esse sonho de putos charilas.
Mas vai ser só para o ano, que neste, depois da “bicha” de
hoje, já ficámos exauridos a necessitar de mais férias.
Muito bom.
ResponderEliminarAs férias servem para tudo isso! Costumo fazer planos. Alguma coisa para melhor muda, mas pouco. Somos humanos.
E quem viver no deserto como se 'purificará'? Será por isso pior que os outros seus semelhantes?
ResponderEliminarEste Robalo é muito melhor que o cherne que enviámos para a Comissão Europeia e que por lá permaneceu durante 10 anos. Tem mais conteúdo e é, naturalmente, mais inteligente. Nós sabemos que o cherne que seguiu para a Europa não era de grande qualidade, mas se não servia para Portugal, como era possível organizar a vida de tantos países. Os erros pagam-se caros e quando não temos suporte os juros são devoradores.
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