Os avós não podem morrer
Nem podem estar doentes. Cada vez mais avós estão a ser chamados para
sustentação da família. À porta das escolas cada vez é maior o número de avós a
levarem e a irem buscar os netos. O mesmo nas actividades desportivas e
culturais. E as conversas são muito idênticas: não posso aceitar esse convite
porque estou de serviço aos netos nesse dia.
Os avós não se queixam, antes pelo contrário. Mostram um sorriso grande embora
muitas vezes as pernas não tenham a desenvoltura que seria desejável. É que os
horários dos seus filhos, dos pais dos seus netos, não têm dimensão humana e
para que haja pão ao fim do mês os avós têm de estar de serviço quando não são
mesmo os seus pouco recursos monetários que ajudam no pagamento das contas. E
os avós sorriem e vão acrescentando: pode ser que venham dias melhores.
Estes avós que começaram uma vida dura, que foram lutando, estrearam melhoria
de horários, e a semana inglesa, o aumento do dias de férias, alguns até
tiveram horários especiais para continuarem os estudos, o 13º mês e depois
algum dinheiro mais nas férias, vêem agora os seus filhos angustiados
trabalhando sem horários, falta de pagamento de trabalho extra, e muitas
certezas da incerteza do amanhã. Vivem na angústia de não viverem o suficiente
para ajudar os seus filhos e, principalmente, os seus netos.
Publicado no Jornal Publico em 3 de Março de 2011
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